A desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, será processada pelo líder do MTST, Guilherme Boulos, por incitação ao crime.
Boulos fez o print de uma publicação da desembargadora, em que a foto dele aparece com a inscrição “A tristeza no olhar de quem vai ser recebido na bala depois do decreto do Bolsonaro”.
Em sua página no Facebook, Boulos publicou o print e escreveu:
“Esta é a desembargadora Marília Castro Neves, do TJ do Rio de Janeiro. Já responde judicialmente por ofensas a Marielle Franco e outras postagens inadequadas. Um magistrado tem que ter equilíbrio, não pode incitar ao crime. Agora responderá mais uma ação judicial.”
Marília Castro Neves já havia ofendido a vereadora Marielle Franco, o deputado Jean Wyllys e uma professora que tem síndrome de down.
Na ocasião, em carta dirigida à professora, pediu desculpas. E prometeu que iria se comportar melhor nas redes sociais. Escreveu:
“Prezada professora Débora,
Estou escrevendo para agradecer a carta que você me mandou e lhe dizer que suas palavras me fizeram refletir muito. Bem mais do que as centenas de ataques que recebi nas últimas semanas. Desculpe a demora na resposta, mas eu precisava desse tempo.
Tenho sofrido muito desde que fui atropelada pela divulgação de comentários meus, postados em grupos privados –restritos a colegas da magistratura. Mas alguém resolveu torná-los públicos. Alguns haviam sido postados há tanto tempo que eu nem me lembrava deles. A repercussão foi imensa.
Desde então, decidi me recolher. Chorei, fui abraçada e pensei muito.
E, de tudo que li e ouvi a meu próprio respeito, foi de você, de quem em um primeiro momento duvidei da capacidade de ensinar, que me veio a maior lição: a de que precisamos ser mais tolerantes e duvidar de pré-conceitos.
Minhas posições pessoais jamais interferiram nas minhas decisões, conhecidas por serem técnicas e, por isso mesmo, quase sempre acompanhadas unanimemente pelos meus colegas de turma julgadora.
Hoje, contudo, percebi que, mesmo quando meu corpo despe a toga, a mesma me acompanha aonde eu for. As opiniões pessoais de um magistrado, uma vez divulgadas, sempre terão peso, pouco importando ao tribunal das redes sociais que tenham elas sido ditas em caráter público ou privado e que opinião não seja sentença.
Magistrados também erram e, quando o fazem, incumbe-lhes desculparem-se. Esta carta é justamente isso: um pedido de perdão.
Perdão, Débora, por ter julgado, há três anos atrás, ao ouvir de relance, no rádio do carro, uma notícia na Voz do Brasil, que uma professora portadora de Síndrome de Down seria incapaz de ensinar. Você me provou o contrário.
Aproveito o ensejo para também me desculpar à memória da vereadora Marielle Franco por ter reproduzido, sem checar a veracidade, informações que circulavam na internet. No afã de rebater insinuações, também sem provas, na rede social de um colega aposentado, de que os autores seriam policiais militares ou soldados do Exército, perdi a oportunidade de permanecer calada. Nesses tempos de fake news’temos que ser cuidadosos. Estendo esta reflexão ao deputado Jean Wyllys. Sempre me oporei às suas ideias e às do PSOL, nada mudará isso, mas é evidente que não desejo mal a ninguém.
Os sinais de que a desembargadora já tinha voltado à prática abusiva já tinham sido detectados pela coluna de Lauro Jardim.
“Marília Castro Neves, desembargadora que se notabilizou por ter difundido notícias falsas sobre Marielle Franco, voltou com força total às redes sociais”, escreveu ontem, a propósito de um comentário dela sobre a reportagem “Ex-alunos de Vélez e Olavo e ala ligada a militares dominam o novo MEC”, do UOL.
A magistrada havia comentado:
“Espetáculo!!! O Brasil se libertando da opressão marxista!!! Voltando a ter orgulho de ser brasileira em um país livre do socialismo!!!! BrasilAcimaDeTodosDeusAcimaDeTudo”
“#SocialismoNuncaMais Acabou a vagabundagem petista!!! O Brasil agora vai prosperar, livre dos parasitas que sugavam toda sua energia!!! #FORAPT”
Essa agressividade, que a magistrada demonstra ser incapaz de controlar, tem origem na blindagem que os juízes brasileiros julgam ter (ou tem).
Marília Castro Neves é cria da impunidade.