O conselho soa estranho. Mas é o que recomenda Cal Newport, um milenial, cientista da computação, escritor, blogueiro e professor da Universidade Georgetown.
O típico sujeito que não sairia do Twitter ou do Snapchat, com fones de ouvido ligados no Spotify.
Mas ele diz jamais ter tido uma conta em qualquer uma dessas coisas. Na verdade, acredita que devemos todos nos desplugar.
“Mais pessoas deveriam seguir meu exemplo e deletar estes serviços. Há muitas questões com a mídia social, da corrosão da vida cívica a sua superficialidade cultural, mas o que quero argumentar aqui é mais pragmático: Você deve sair da mídia social porque ela pode prejudicar sua carreira”, disse ele em artigo no New York Times.
“Em uma economia capitalista, o mercado deve compensar o que é raro e valioso. O uso da mídia social não é decididamente nenhuma das duas coisas. Qualquer pessoa de 16 anos pode inventar uma hashtag e compartilhar um artigo viral”.
Em vez de se envolver na “abordagem fundamentalmente passiva” para fazer avançar sua carreira, ele diz que se deve seguir esta frase do comediante Steve Martin: “Seja tão bom que ninguém possa ignorá-lo”. Se fizer isso, ninguém vai se preocupar com quantos seguidores você tem no Instagram.
A mídia social “distrai sua atenção e desperdiça seu tempo quando você poderia estar produzindo trabalho que interessa e convencer o mundo que você importa”, afirma Newport.
Chamem como quiser. Mas o Facebook é uma empresa de mídia
Nos dias antes e depois das eleições nos EUA, o Facebook foi qualificado de muitas maneiras – um website, uma companhia da internet, um player importante no universo da mídia, um gigante da tecnologia, uma fossa de nonsense.
Mas o Vox resolveu chamá-lo pelo que é, pedindo que “admita que é, de fato, uma empresa de mídia,” observando que “o design de seu newsfeed envolve inerentemente a tomada de decisões editoriais, e tem uma responsabilidade de tomar estas decisões”.
Mark Zuckerberg respondeu, no começo da semana, que “notícias e mídia não são as coisas primárias que as pessoas fazem no Faceook e por isso acho estranho que as pessoas insistem em nos chamar de uma empresa de mídia ou notícias para reconhecer sua importância”. Mas hoje 44 por cento dos americanos usam o Facebook como fonte primária de notícias. Com variações, o fenômeno é mundial.
Segundo Zeynep Tufecki, do New York Times, “o algoritmo do Facebook é crucial para o modo como notícias e informação são consumidas no mundo hoje, e nenhum historiador vai escrever sobre 2016 sem falar nisso”
“Estas companhias não querem dizer que são de mídia, mas são”, afirma Nicco Mele, diretor do Centro de Mídia de Harvard, organização fundada para estudar a mídia e seu papel em uma sociedade democrática. Primeiro, o grosso de sua receita é gerada por anúncios e atenção do usuário. Segundo, elas têm uma capacidade desproporcional de dar formato à esfera pública, comenta o Verge.
Instagram corre atrás do Snapchat usando seu conceito central
O app, de propriedade do Facebook, lançou esta semana uma série de novas ferramentas, incluindo uma que deixa usuários enviarem fotos e vídeos que desaparecem. E ainda um streaming ao vivo.
Os usuários do Instagram podem agora enviar mensagens efêmeras para indivíduos ou grupos através da câmera. Basta arrastar a tela para a direita e acessar a ferramenta.
As mensagens que se destróem podm ser mandadas apenas através de mensagens privadas e ao vivo no inbox do usuário. Avatares circulares aparecem no alto do inbox para diferenciá-las das outras.
Embora as mensagens sejam imediatamente removidas do app, o conteúdo é visível até que a última pessoa a veja. Elas são armazenadas por tempo limitado, para que possas ser revistas caso haja um aviso de violação.
Os usuários podem também partilhar vídeo ao vivo o que acontece em tempo real. Diferentemente do Facebook, o streaming do Instagram é apens disponível para visão enquanto alguém estiver gravando.
Estas novidades se seguem à introdução das Stories, uma coleção pública de fotos e vídeos que desaparece em 2 horas. O Stories é quase idêntico à ferramenta do Snapchat do mesmo nome.
A possibilidade de o Instagram roubar usuários do Snapchat depende de usuários e seus amigos decidirem fazer sua escolha do Instagram como o app efêmero de sua escolha, O Instagram tem 300 milhões de usuários diários, e o Snapchat metade disso, informa a CNN.
Internet e imprensa: o que muda, e como?
Em artigo no Observatório da Imprensa, Taís Teixeira levanta algumas questões importantes sobre as mídias sociais. Reproduzo um trecho:
“A solidão deixou de ser problema. Os relacionamentos afetivos na era das redes sociais mudam a concepção romântica que reduzia a felicidade a uma necessidade intransigente de ter alguém presente o tempo todo. O tempo sozinho passa a ser valorizado e ganha a companhia das redes sociais, que tornam suportável a distância física pelo envolvimento/entretenimento ativo que proporcionam às pessoas.
Nesse contexto em vias de transformação contínua, a produção de conteúdo assume uma posição fundamental para atrair esse público, que desenvolve uma relação de intimidade com a sua vida virtual. As fontes de informação são diversificadas e com várias procedências. O jornalista perde parte do seu protagonismo como produtor de conteúdo num ambiente que dá voz e vez a outros formatos, gêneros, linguagens, formações e influências.
O universo digital tornou possível o surgimento de novas referências com a ampliação da pluralidade discursiva, o que remete a uma reflexão sobre o posicionamento do jornalismo na polissemia das redes sociais.
Outro ponto percebido é a qualidade desse conteúdo, que dá forma a diferentes elaborações oriundas de fontes dispersas. A ação do comando “compartilhar” para esse novo usuário parece ser mais interessante do que conhecer a fonte de informação, o que demonstra uma característica que dispensa ou não atribui relevância à origem do fato.
Dessa forma, frases como “Eu vi no Facebook, alguém compartilhou no Facebook…” começam a fazer parte dos diálogos, o que nos faz pensar sobre o lugar das fontes fidedignas nas redes sociais.
Essa conjuntura sistêmica , que integra as redes sociais e todos que fazem parte dela, dividem um domínio coletivo de conteúdo, onde abastecem, interagem e são fontes, ou seja, ocupam simultaneamente mais um lugar dentro do campo. Observando por essa ótica, o jornalista, a notícia, a qualidade e a credibilidade do que se acessa, como ficam?
As mídias e as redes sociais são resultado dos usos e apropriações que foram se configurando na Internet. A tecnologia reverberou e assumiu técnicas de relacionamento, controle de tráfego de informações, métricas para mapear o perfil do consumidor para que marcas possam conhecer melhor o seu cliente.
Essas ferramentas são usadas para mensurar ações do marketing digital. Porém, essa aproximação de relacionamento não deve ficar restrita somente às estratégias desse setor.
No jornalismo, a evolução da qualidade de conteúdo deve ser proporcional ao avanço de tecnologias para suprir esses novos espaços, o que significa outras possibilidades de desempenho profissional.
Com essa nova plataforma de interação do usuário, que permite com que cada um seja o seu próprio editor, assim como personalize o momento de busca, podendo interromper e retomar a qualquer momento, reforça a individualidade e a instantaneidade como valores possíveis da notícia digital.
Talvez esteja nesse atributo a possibilidade de verificar um viés da sustentabilidade da notícia digital, ou seja, a instantaneidade é a base da sustentabilidade da notícia digital, pois ao acionar uma rápida reprodução no fluxo digital torna a instantaneidade um conceito central da notícia digital.