Desmaios por fome e descontos de salário: auditor revela situação dos trabalhadores nos arrozais de RS

Atualizado em 12 de março de 2023 às 9:47
Marmita azeda, com formiga ou fria: Ministério Público do Trabalho revela condições degradantes no RS. Imagem: Divulgação/MPT

De acordo com o auditor fiscal do trabalho Vítor Ferreira, trabalhadores resgatados em duas fazendas de arroz no Rio Grande do Sul em condições análogas à escravidão costumavam desmaiar de fome e sede. Eles ainda eram punidos com a perda de parte do salário caso não conseguissem terminar a jornada de trabalho. As informações são do UOL.

A Polícia Federal, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) iniciaram uma operação na última sexta-feira (11) em duas fazendas a cerca de 50 quilômetros da área urbana de Uruguaiana (RS). 56 trabalhadores em condições degradantes já foram resgatados, incluindo dez adolescentes. “É evidente que os desmaios aconteciam e que não era dado nenhum cuidado pelo explorador da mão de obra. Se não cumprissem a jornada, seja por qualquer motivo, não recebiam”, disse Vítor Ferreira ao UOL.

Agora, os investigadores querem saber quem eram os verdadeiros empregadores dos lavradores rurais: os proprietários da fazenda ou a empresa que comprou a produção de arroz. Um homem identificado como agenciador de trabalhadores (“gato”, no jargão) foi preso, mas ficou em silêncio durante todo o depoimento à Polícia Federal.

O auditor do trabalho classificou a situação como “muito grave”. De acordo com ele, não havia água, banheiros ou mesmo um local para se proteger do sol quente num clima que, a esta época, chega a 40ºC em Uruguaiana. Vítor Ferreira garante que quando os verdadeiros empregadores forem identificados, terão de arcar com dívidas, multas trabalhistas e administrativas, além de responderem criminalmente.

O procurador do trabalho Hermano Domingues destacou que, nos depoimentos, os trabalhadores disseram que os agenciadores vendiam drogas aos adolescentes. Os valores eram descontados dos salários.

Polícia Federal resgata trabalhadores semiescravizados em fazenda de arroz. Foto: Comunicação PF

A reportagem do UOL conta, ainda, que um adolescente de 14 anos sofreu um acidente de trabalho com um facão, que atingiu dois dedos do pé. Ele tinha o sonho de ser jogador de futebol e já tinha feito testes em clubes. O jovem trabalhava sem botina ou outro equipamento de proteção.

“Uma pessoa que estava só iniciando a vida, o sonho era ser jogador de futebol, já tinha feito testes para clubes de futebol… Perdeu o movimento dos pés e talvez agora não vai mais jogar bola”, lamentou Domingues.

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