Por Altair Freitas
Em um espaço de tempo de dez dias, Bolsonaro e o bolsonarismo viram seu sonho golpista virar fumaça, especialmente quando vinculado às comemorações do 7 de Setembro, simbólica data pátria do bicentenário da nossa independência, que eles tentavam sequestrar para criar uma situação de ruptura política ainda mais profunda.
Com a realização do ato organizado pela Faculdade de Direito da USP para a leitura da “Carta aos Brasileiros e Brasileiras” no dia 11 de Agosto, que mobilizou uma multidão dentro e fora da sede daquela faculdade no Centro de São Paulo, passando pela humilhante e vexatória situação do presidente da república protagonizada pelo ministro Alexandre de Moraes na sua posse para a presidência do TSE culminando com o cancelamento do “desfile militar” em Copacabana no dia da independência. Os sonhos de uma aventura golpista escorreram pelos dedos feito água fervente.
Acuado, principalmente após o verdadeiro “tapa com luva de box”, recebido ao vivo e a cores na posse no TSE, bem na frente de Lula e Dilma, dentre outras figuras de grande peso da política brasileira, um constrangimento sem tamanho e raramente visto na história brasileira, resta ao presidente e seu núcleo mais direto de seguidores disputar a eleição nos termos da legislação vigente.
Não significa que estamos livres de novas retóricas golpistas, mas serão apenas isso mesmo, ou seja, um resto de falatório vazio sobre as urnas eletrônicas e fanfarronices clássicas.
Há contudo algo que me preocupa muito e requer da nossa parte, do campo político que se articula em torno da liderança do presidente Lula, e em especial às candidaturas dos (as) comunistas um grande cuidado: a existência de uma multidão de “lobos solitários” desgarrados de qualquer comando político mas vinculados ao discurso de Bolsonaro, especialmente aquele de sentido “moral”, viciados na retórica anticomunista, antipetista e do “cristianismo de fachada”, como bem classificou o Papa Francisco ao tratar sobre esse tipo de gente.
Ao longo da história, da mais recente à mais remota, os “lobos solitários”, radicais embrutecidos por uma retórica tosca, ideologizada e desprovida de racionalidade, já causaram enormes estragos nas disputas políticas. Guerras foram iniciadas por conta da ação desse tipo de pessoa. É claro que guerras, golpes, rebeliões, revoluções, não acontecem em função de um ato isolado.
Mas os atos isolados podem ser deflagradores de grandes conflitos, algo como “colocar fogo no estopim do barril de pólvora”.
É necessária máxima atenção às provocações que podem – e vão! – ocorrer nas atividades de campanha e evitar entrar nelas. É fundamental ter “cabeça fria” e “coração quente”, como nos ensina o fantástico técnico do Palmeiras, o gajo Abel Ferreira. Temos tudo para ganhar a eleição presidencial de modo inquestionável.
Podemos vencer em estados chaves da federação. Podemos ter uma bancada progressista mais alentada no Congresso Nacional e o nosso PCdoB pode sair desse processo mais fortalecido, com uma maior representação parlamentar e com a ocupação de importantes espaços de poder, superando os últimos processos eleitorais realizados em um ambiente profundamente negativo para as nossas ideias.
É preciso foco no diálogo com o povo, com o eleitorado, levar nossas propostas, ampliar nossos apoios políticos e de massas, conscientizar quem ainda está em dúvida sobre os (as) melhores (as) candidatos (as) para os cargos em disputa, consolidar o que temos e buscar a cada dia levar a campanha mais longe, com abnegado espírito militante.
É por causa de tudo isso que, insisto, precisamos redobrar a atenção para impedir que tresloucados que andam por aí (e andam!), cometam atos que possam levar a conflagrações que possibilitem a Bolsonaro retomar seu intento golpista.
Para quem a essa altura do torneio acha que estou vendo fantasmas, cito apenas três ações isoladas que resultaram em impactos históricos intenso: em 1914, o assassinato do arquiduque, Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do império Austro-Húngaro, na cidade de Sarajevo, colocou para funcionar as engrenagens das máquinas da guerra imperialista e o mundo entrou militarmente na 1ª Guerra Mundial (1914-1918).
Aqui no Brasil, em julho de 1930, o assassinato de João Pessoa, então presidente do estado da Paraíba, deflagrou a “Revolução de 30”, uma vez que Pessoa havia sido candidato a vice de Getúlio Vargas, derrotado na eleição de março daquele ano.
A morte de João Pessoa foi tomada como um atentado político às forças getulistas, desencadeando uma onda de protestos que resultou na revolução. E segue viva entre nós a consequência nefasta aquela facada de 2018. Os exemplos são muitos e poderia ficar aqui um bom tempo descrevendo-os. Mas acredito que deu para entender!
(Texto originalmente publicado no Vermelho)