O desmatamento provocado pelo garimpo na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, cresceu 24,7% em 2022 em relação ao índice registrado no ano anterior. A destruição provocada pelos garimpeiros, responsáveis pelo genocídio e crise humanitária que atinge os índios na região, chegou a 232 hectares no ano passado. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O levantamento foi compilado a pedido do jornal Folha de S.Paulo, com base em imagens de satélite do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real. Em todo o ano passado, o sistema só registrou desmate na terra indígena relacionado à mineração ilegal.
Desde 2019, quando a área passou a ser monitorada pelo órgão, cerca de 950 hectares da floresta foram derrubados pelo desmatamento.
O pesquisador do Instituto Socioambiental Estevão Senra diz acreditar que o salto na devastação na reserva no ano passado pode ser atribuído a dois fatores. O primeiro é maior facilidade de expandir uma estrutura já instalada na floresta. O segundo tem a ver com 2022 ter sido um ano eleitoral.
“Por um lado, se [o ex-presidente Jair] Bolsonaro ganhasse, existia uma expectativa de regulamentação ou de continuação da vista grossa [na fiscalização]. Então, você promove uma espécie de corrida para ver quem chega primeiro e ocupa as áreas onde já tem alguma prospecção [de encontrar minério]”, disse o geógrafo. “E, por outro lado, se ganhasse o outro candidato a presidente, que falou que ia retomar a política de proteção ambiental, é agora ou nunca. Aí, as pessoas vão para lá para retirar o que puderem, enquanto puderem.”
Outra pesquisa que aponta o desmatamento é o Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami, feito pela associação indígena Hutukara. Segundo o levantamento, em 2022 o desmate causado pela atividade ilegal avançou 1.781 hectares.
O monitoramento é promovido desde 2018 pela organização dos yanomamis, usando imagens de alta resolução da constelação de satélites Planet. Além de serem analisados por especialistas bimensalmente, o levantamento é validado em sobrevoos anuais da área.
A pesquisa mostra o avanço do garimpo sobre o território. Enquanto em outubro de 2018 o total da área perdida para o garimpo era de 1.236 hectares, em dezembro de 2022 ela chegou a 5.053 hectares. De dezembro de 2021 para dezembro de 2022, a devastação cresceu 54%.