O medo de Michel Temer de ir a velórios ou quaisquer outros lugares com mais de quinze pessoas que não sejam de sua corriola contrasta com uma desenvoltura impressionante para pedir dinheiro.
Em nova citação em delação premiada da Odebrecht, o executivo Márcio Faria da Silva deu detalhes sobre um “repasse” — esses eufemismos são maravilhosos — para o PMDB em 2010 requisitado por Michel e o velho e bom Eduardo Cunha.
O pedágio servia para facilitar a atuação da empreiteira em projetos da Petrobras.
De acordo com Silva, a conversa ocorreu no escritório de Temer em São Paulo — que fica, veja só que coincidência, perto do de José Yunes, o advogado, conselheiro e ex-assessor especial que se demitiu depois da denúncia de que recebeu em cash por encomenda do amigo.
Além de Cunha, estava presente João Augusto Henriques, apontado como operador de propinas do PMDB, preso há mais de um ano no Paraná.
Henriques confessou o fechamento de um contrato de quase US$ 1 bilhão às vésperas do segundo turno das eleições de 2010 entre a área internacional da petroleira e a empreiteira.
Só gente fina, elegante e sincera.
A resposta de Michel é um acinte. Ele confirma o encontro, conta que Cunha e Henriques estavam lá e havia mais uma pessoa que “pode ser” Márcio Faria da Silva.
Tudo numa relax. Eduardo Cunha apenas queria apresentar um homem “disposto a contribuir para campanhas”. Não se falou de grana. Foi por um “breve tempo”. Ele “já conhecia João Henriques”.
Temer está desesperado, com razão, com o que ainda vem pela frente na Odebrecht. Ninguém sai impune a décadas de convivência com tais personagens.
Temer não resiste um facho mínimo de luz. Viveu na sombra e agora se derrete.
Para quem quiser uma explicação sincera da tabelinha com Eduardo nesses esquemas, fique com o próprio Temer num ato da Assembleia de Deus:
“É absolutamente verdadeiro tudo aquilo que ele (Cunha) disse, e por isso que eu disse que as suas palavras são críveis, são acreditáveis. E eu tenho em Eduardo Cunha um auxílio extraordinário na Câmara Federal. Ninguém desconhece as suas qualidades. Se você quiser dar uma tarefa das mais complicadas para o deputado Eduardo Cunha, ele as simplifica. Então, as tarefas difíceis eu entrego, como entregava, à fé do deputado Eduardo Cunha”.