O professor Didier Raoult, guru da cloroquina, prestou esclarecimentos hoje à Câmara disciplinar do Conselho de Medicina do sudoeste da França. Ele é acusado de atentar contra o código de deontologia médica ao defender o tratamento à base de hidroxicloroquina para a Covid-19.
Com dizeres de dizeres de “liberdade”, “verdade” e “resistência”, cerca de 30 apoiadores de Raoult protestavam em frente à corte local, na cidade de Bordéus, onde o depoimento ocorreu.
Segundo informações do canal francês BFM TV, Raoult disse durante a audiência que “a pesquisa está sendo julgada”. “Dizem que me falta modéstia, o que talvez é verdade”, teria dito, de acordo com o mesmo canal de televisão. “A mensagem do Estado é perigosa”, teria afirmado, sem precisões. “Trump adotou a hidroxicloroquina, virou um negócio de cara de extrema direita. Eu não conheço Trump, ele faz o que quiser”, teria afirmado.
De acordo com a BFMTV, o advogado de Raoult afirmou que o presidente francês Emmanuel Macron liga regularmente para Didier Raoult, “ele escuta mas não ouve necessariamente”.
O depoimento responde à primeira denúncia, feita em agosto do ano passado pelo Conselho regional de Medicina de Bouches-du-Rhône, onde funciona o instituto dirigido por Raoult. Comentaristas de TV disseram ser natural que a convocação de Raoult se dê fora de Marselha, onde trabalha, por conta do ambiente de polarização que o cientista instigou. Em dezembro, uma segunda denúncia contra o infectologista foi protocoloda, pelo Conselho nacional de médicos do país.
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O advogado de Raoult disse a jornalistas que a denúncia não apresenta nenhuma prova de desconsideração do médico contra a profissão. De acordo com a imprensa francesa, uma primeira decisão da corte disciplinar deve ser anunciada entre 15 dias e dois meses. A pena para Raoult pode ir de uma advertência à impossibilidade de exercer a medicina.
O laboratório que dirige foi recentemente denunciado à Procuradoria do país pela ANSM (Agência Francesa de Segurança do Medicamento), que o acusa de realizar testes ilegais em pacientes com tuberculose, sob iniciativa de Raoult. O caso foi batizado por cientistas de “Prevent Senior francesa”.
Pacientes teriam precisado dos serviços de emergência, ao desenvolver complicações renais após os tratamentos prescritos por Raoult. Eles haviam sido rejeitados pelas autoridades francesas. Raoult nega a realização dos testes. Ainda de acordo com informações da imprensa do país, se a denúncia for aceita, Raoult poderá ser condenado a um ano de prisão e multa de 15 mil euros.
No Twitter, Elisabeth Bik, especialista em integridade científica que denunciou diversos problemas éticos nos estudos de Raoult, apelou por ajuda dos internautas para que os autores respondam às falhas apontadas.
Em um tuite, ela disse que vem “sendo ameaçada há meses por um professor do IHU de Marselha, e que a maioria dos estudos que apontei permanecem intocados pelos editores, sem vontade. Me ajudem, não posso fazer isso sozinha”.
https://twitter.com/MicrobiomDigest/status/1456075209950130186