Os 55 anos do Golpe Militar no Brasil são, para todos nós que lutamos contra o arbítrio, pelas liberdades e pelos direitos humanos e sociais, uma triste lembrança.
1964 é uma ferida aberta na história política do país. São tempos que evocam prisão, tortura, morte e exílio. Tempos em que a ação do governo ditatorial levou ao fechamento do Congresso Nacional, ao cancelamento de eleições diretas para presidente, governador e prefeito, à cassação de ministros do STF. Instituíram a censura à imprensa e desencadearam a mais violenta repressão às greves de trabalhadores e às manifestações estudantis. A gente brasileira passou a falar de lado e olhar para o chão.
Passados 55 anos, mais uma vez estamos nos afastamos da democracia. E, hoje, infelizmente, o país não está pacificado. Longe disso. Depois do golpe de 2016, que me tirou da Presidência da República, vivemos novamente tempos sombrios de ódio e intolerância.
Para surpresa dos democratas comprometidos com a soberania nacional e os direitos sociais, para estarrecimento da imprensa, os elogios descarados do atual presidente da República ao golpe de 64 mostram que estamos distantes da pacificação sonhada.
Em 2012, na instalação da Comissão Nacional da Verdade, eu disse que a ignorância sobre a história não pacifica. Ao contrário, mantêm latentes mágoas e rancores. A desinformação não ajuda a apaziguar, apenas facilita o trânsito da intolerância.
É duro ver que após a incansável luta pela democracia, pagamos com dor e sacrifício para assistir agora uma comemoração forjada pelo chefe de Estado do golpe de 1964. Todos sabemos que brasileiros e brasileiras foram assassinadas pela ditadura e estão “desaparecidos” até hoje. Amigos e familiares guardam a dor da ausência de muitos de seus filhos e pais.
Não há nada a comemorar nesse dia. Só rezar pelos mortos e manter a certeza que iremos resistir ao autoritarismo para construir uma nação sem ódios, sem mágoas e sem perseguições. Cheia de cidadania, direitos sociais e humanos e soberania nacional.
Para isso, precisamos continuar a lutar por um Brasil mais solidário, mais justo e menos desigual.
Ditadura nunca mais!
Dilma Rousseff