O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Augusto Passos Rodrigues, em depoimento tomado no procedimento administrativo disciplinar em curso na PF que apura a atuação de Anderson Torres, revelou que obteve informações sobre os riscos representados pelos protestos entre 2 e 5 de janeiro, e que as informações foram adquiridas por meio de fontes abertas, além de diálogos e relatórios da área de inteligência da PF.
No entanto, ao passar as informações para a Secretaria de Segurança do Distrito Federal, no dia 7, Rodrigues disse que membros do órgão estavam com “percepções diferentes” à da PF sobre a gravidade do que seriam as invasões ao Palácio do Planalto.
A preocupação central era a associação dessas manifestações com um viés de violência e uma chamada para “tomar o poder”, um tema amplamente discutido nas redes sociais naquele momento. A Folha de S.Paulo teve acesso aos relatos de Rodrigues no procedimento administrativo disciplinar em curso na PF que apura a atuação de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), no episódio.
“Tomei conhecimento por fontes abertas, acho que era recorrente em redes sociais todo o movimento que havia naquele período, e também por diálogos e despachos diários com a área de inteligência interna nossa”, disse no relatório. No entanto, Rodrigues admitiu que a PF só comunicou oficialmente a Secretaria de Segurança do Distrito Federal sobre as preocupações em 7 de janeiro, um dia antes dos atos.
A reunião que finalmente ocorreu entre a Polícia Federal e a Secretaria de Segurança do DF foi conduzida por Rodrigues e Fernando Oliveira, o então número dois da pasta distrital.
Essa reunião foi destinada a compartilhar preocupações e entender o planejamento das manifestações. No entanto, Rodrigues relatou que as autoridades da Secretaria de Segurança pareciam ter uma percepção menos grave do que a PF sobre o potencial de violência dos protestos.
Segundo ele, a inteligência da PF e ele mesmo tinham “muito claro que era de extrema gravidade” a mobilização para o protesto e que não “pareceu ser o entendimento dos representantes da secretaria”.
“Eu tomei conhecimento, reitero aqui, por parte da nossa inteligência, onde por mais de uma oportunidade foi alertado, [que] o movimento era notadamente com esse viés de violência, de ‘vamos tomar o poder’ —acho que era expressão muito usada naquele período—, onde nas redes sociais era notório e se poderia facilmente identificar que havia sim movimento violento sendo planejado para o dia 8 como aconteceu”, disse.
Apesar de suas preocupações, Rodrigues não apresentou um relatório formal detalhado à secretaria de segurança durante a reunião. Ele afirmou que a comunicação consistiu principalmente em informações verbais. Posteriormente, a PF enviou um ofício ao então ministro da Justiça, Flávio Dino, que detalhava as informações coletadas pela inteligência da corporação.
A Polícia Federal enfatizou que sua atribuição não inclui o policiamento de ordem pública, que é responsabilidade da Polícia Militar do DF. A PF aguardou informações da Secretaria de Segurança entre os dias 2 e 7 de janeiro e, como não recebeu, solicitou a reunião “entender o que estava sendo planejado e organizado e levar a preocupação em razão de todos os fatos que notadamente iriam acontecer e aconteceram”
O pedido de prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF, foi baseado em um relatório interno que mencionou a possibilidade de omissão por parte das autoridades locais diante das informações sobre os protestos, corroborado pelo depoimento de Rodrigues.
Por fim, a Polícia Federal também afirmou que “cabe lembrar que os preparativos para as ações violentas do dia 8/1 já eram de conhecimento da sociedade, inclusive por conta da ampla divulgação em redes sociais e fontes abertas, que são monitoradas por unidades de inteligência dos órgãos de segurança pública”.
Veja a audiência de Andrei Rodrigues:
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