O diretor do instituto de pesquisas Quaest, Felipe Nunes, fez uma análise sobre o cenário político brasileiro para as eleições de 2026, partindo dos resultados de 2024. Falou sobre as disputas pelo poder e as divisões tanto na direita quanto na esquerda.
Para ele, a próxima eleição para a Câmara dos Deputados deverá refletir uma baixa renovação parlamentar, repetindo a maior taxa de reeleição da história, registrada em 2024.
Em entrevista ao Globo, Nunes, que é cientista político e autor do livro “Biografia do Abismo”, afirmou que “com o fundo eleitoral recorde e as emendas mantidas, teremos um alto padrão de reeleição parlamentar em 2026”.
A vitória dos partidos do Centrão na maioria das cidades do país reforça essa expectativa e provoca fusões e federações partidárias, que visam a sobreviver à cláusula de barreira de 2026, conforme estabelecido pela reforma eleitoral. Esse movimento estratégico revela a dinâmica de poder entre os partidos menores, que, sem essas alianças, enfrentariam dificuldades em manter representação.
O presidente Lula (PT), até então, tem se mantido distante das disputas internas, mas Nunes aponta que a estratégia de não interferir na sucessão da presidência da Câmara pode ter implicações. “Lula vai ter que se meter se não quiser ficar sem governabilidade nos últimos dois anos”, afirmou, lembrando as dificuldades de governança enfrentadas com Arthur Lira no comando.
Ainda sobre o presidente, o cientista político falou que Lula precisava obter grandes vitórias para garantir sua posição na tentativa de reeleição. “Ele não precisava ganhar ou perder este ano para ser forte em 2026”, destacou, mencionando o histórico de que eleições municipais pouco refletem nas presidenciais.
Na eleição de prefeitos deste ano, apesar de um pequeno avanço em prefeituras pelo PT, a esquerda teve desempenho abaixo do esperado. Para ele, o desafio agora é formar lideranças que compreendam o “novo perfil da sociedade brasileira, que acredita mais em meritocracia e no próprio negócio”, além de considerar “Deus e família como pilares”.
O diretor da Quaest também destacou João Campos, prefeito de Recife (PSB), como uma nova liderança de esquerda com forte presença no Nordeste e personalidade cativante. Já o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), foi mencionado como exemplo de alguém que transita bem entre diferentes espectros políticos, de Otoni de Paula (MDB) a Marcelo Freixo (PT).
Para ele, figuras carismáticas e capazes de dialogar com diversos setores da sociedade tendem a cativar o eleitorado: “As pessoas precisam se inspirar nessas figuras”, afirmou.
Guilherme Boulos, candidato do PSOL nas eleições, é outro nome citado na análise. Segundo Nunes, Boulos utilizou a campanha para reforçar uma imagem mais moderada e buscar uma reaproximação com eleitores mais centristas. Contudo, ele alerta que “o reposicionamento não acontece da noite para o dia”.
O cientista político vê Jair Bolsonaro em uma posição fragilizada, após a derrota de candidatos apoiados por ele em capitais como Curitiba, Goiânia, Manaus, Fortaleza e Belo Horizonte. A direita brasileira saiu dividida das eleições municipais, com destaque para os governadores que ganharam relevância frente a Bolsonaro. Entre eles, Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, desponta como o principal nome da direita para 2026, reforçando o crescimento da ala moderada e pragmática liderada pelo PSD, partido de Gilberto Kassab.
Para Nunes, a política brasileira em 2026 será marcada pela continuidade da influência do Centrão, pelo fortalecimento de novas lideranças de esquerda e por uma direita mais fragmentada e liderada por figuras como Tarcísio.
Esse cenário promete embates entre lideranças regionais e nacionais e coloca o PSD em uma posição central: “O partido de Kassab está em todos os lugares”, concluiu, destacando a habilidade do partido em formar alianças com governos de diferentes espectros políticos.
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