Diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Manoel Galdino reconhece o identitarismo punitivista como uma ferramenta justa para promover a equidade no debate público. O texto foi publicado na Folha de S. Paulo neste domingo (8).
Galdino, por sua vez, tem aparecido nos jornais por outros motivos no últimos anos: o diretor da ONG sempre posicionou-se a favor da Operação Lava Jato, conhecida pela sua falta de apreço ao devido processo legal e ao direito de defesa, o que não deixa de ser coerente com seu posicionamento atual. Afinal, não é difícil enxergar paralelos entre os métodos da Lava Jato e alguns levados a cabo por pessoas, instituições e entidades progressistas quando a pauta se enquadra nos temas caros à esquerda.
Em sua coluna no portal uol neste domingo, Reinaldo Azevedo é uma das poucas vozes públicas que ousou apontar essa essa contradição no caso das acusações de assédio sexual contra o agora ex ministro Silvio de Almeida. Não se trata de condescender com assédio e abuso sexual, que devem ser investigados e punidos no rigor da lei. Trata-se de sentir um sinal de alerta, semelhante aos soados durante a Lava Jato, quando alguém é condenado sumariamente em praça pública com uma denúncia anônima, encabeçada por uma entidade privada com interesses no governo, sem direito à defesa e qualquer denuncia oficial a qualquer órgão competente. Politicamente, era impossível a permanência do ex ministro. Criminalmente, muita coisa ainda deve ser explicada e, se for caso, levar a punições.
Dias depois das denúncias do ex-ministro Silvio Almeida, acusado de assédio sexual pela ONG Me Too, o diretor vem a público para defender justamente que as justas pautas identitárias sejam usadas para praticar um punitivismo no melhor estilo lavajatista, sob pena da sociedade torna-se um “gaslighting intelectual, caracterizado pela negação sistemática de realidades sociais evidentes”.
Confira trechos do texto publicado na Folha de S. Paulo:
Há em curso uma crítica, pela esquerda, ao chamado identitarismo, centrada na forma como pessoas negras, mulheres e comunidade LGBTQIA+ têm participado do debate público. Embora existam mesmo excessos, com grupos mobilizando suas identidades para se colocarem em posição de superioridade ética, eles são menos insidiosos ou poderosos do que outro fenômeno que dominava o debate público de forma invisível até então: o gaslighting intelectual.
O livre mercado de ideias, em que pessoas ou grupos não são deslocados para uma posição defensiva do ponto de vista psicológico, nunca existiu plenamente. O gaslighting intelectual, caracterizado pela negação sistemática de realidades sociais evidentes, há muito tempo já minava o debate público ao distorcer a própria base sobre a qual as discussões deveriam ocorrer.
Considere a discussão sobre cotas raciais no Brasil nos anos 2000. Afirmava-se que o racismo no país era inexistente e que as cotas criariam esse problema em nosso paraíso racial.
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Não se trata de querer interditar o debate ao rotular certos argumentos como abuso psicológico. Contudo, é fundamental reconhecer como a negação sistemática de opressões baseadas em raça, gênero e identidades LGBTQIA+ impacta negativamente a participação de vozes diversas no espaço público.
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As críticas que têm acentuado o suposto identitarismo como raiz dos males contemporâneos precisam tomar cuidado para não se engajar, mais uma vez, em gaslighting intelectual. Fez mal no passado, continuará fazendo novamente.