Discurso de Michelle foi aceno a uma “supremacia cristã”, dizem especialistas

Atualizado em 27 de fevereiro de 2024 às 16:43
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro durante ato na Avenida Paulista no último domingo (25). Foto: Divulgação

O discurso da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro durante o ato na Avenida Paulista no último domingo (25) tem preocupado especialistas, que apontam um aceno para a supremacia cristã e uma ameaça à laicidade do Estado. Sua fala é vista como uma tentativa de impor valores da religião a toda a nação.

“Por um bom tempo fomos negligentes ao ponto de falarmos que não poderia misturar política com religião, e o mal ocupou o espaço. Chegou o momento da libertação. Eu creio em um Deus todo poderoso capaz de restaurar e curar nossa nação”, afirmou Michelle durante o evento.

O teólogo Ronilso Pacheco, diretor de programas no Iser (Instituto de Estudos de Religião), avalia a declaração como uma defesa da teocracia. “Ela fala de uma imposição cristã conservadora. Está dizendo, em outras palavras, que durante muito tempo abriu-se mão de reconhecer e militar por uma supremacia cristã conservadora no Brasil”, afirmou à Folha de S.Paulo.

Para Vinicius do Valle, diretor do Observatório Evangélico e doutor em ciência política pela USP, o discurso da ex-primeira-dama sugere a destruição da laicidade e da neutralidade do Estado diante de outras religiões. “Ela faz isso de uma forma muito sagaz, dizendo que a religião cristã representa o bem. Quem vai ser a favor do mal? Isso é muito populista e muito popular. Ainda mais dentro de uma sociedade religiosa”, avalia.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o ex-presidente Jair Bolsonaro durante culto em igreja de Brasília. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Segundo pesquisa realizada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), 43% dos manifestantes que estavam na Paulista no domingo eram católicos e 29% evangélicos. O discurso de Michelle foi feito em tom de pregação, com diversas referências a Deus, numa tentativa de atrair eleitores religiosos.

Ela, que preside o PL Mulher e é cotada para uma candidatura ao Senado Federal ou à Presidência nas próximas eleições, faz esse tipo de discurso desde a disputa de 2022. “Ela tem um reconhecimento dessa base com relação a essa mulher que representa tudo isso, comprometida com a família e com a missão assumida pelo seu marido de governar a nação. Ela é uma figura importante de mobilização desse campo”, diz a pesquisadora Ana Carolina Evangelista, diretora-executiva no Iser.

O uso da religião para atrair votos é uma das principais estratégias do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados desde a campanha de 2018. A ideia, frequentemente utilizada por políticos populistas, consiste e construir uma narrativa de “bem contra o mal”.

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