Gostaria de viver como outras crianças do mundo
Vivemos uma vida de merda, terra e mar, tudo bloqueado
Gostaria de ir à escola
Temos medo de andar por nossas terras, porque há mísseis instalados ali
Muitas vezes penso em nossa situação e nunca vejo uma saída
Onde não se consegue dormir é difícil sonhar
Esses são depoimentos de crianças extraídos do documentário “Nascido em Gaza”, disponível no Netflix. Ele nos mostra o trágico cotidiano de uma população em constante devastação e condições sub-humanas de sobrevivência graças ao cerco de Israel.
São dez crianças retratadas em entrevista, que vivem em tensão constante pelos perigos da guerra. Apresentam seus horrores e suas cicatrizes profundas.
Escrito e dirigido pelo cineasta ítalo-argentino Hernán Zin, ganhou o prêmio de melhor documentário nos Prêmios Goya, o mais importante do cinema espanhol. Também venceu o primeiro lugar no Festival Internacional de Documentários Al Jazeera.
Com a boa música de Carlos Martin e a inspirada fotografia do seu diretor, Hernán Zin, o filme nos conduz para um universo de atrocidades, através dos depoimentos de crianças simples e endurecidas, após ataques do Exército de Israel a civis desarmados no verão de 2014, na Faixa de Gaza.
Em estatísticas apresentadas no filme, cerca de 40 mil crianças palestinas necessitam de ajuda psicológica. Destaca-se também que 70% dos óbitos, naquele ataque de 2014, foram de crianças com menos de 12 anos.
Tudo isso nos faz imaginar o que tem passado a população civil da região depois do ataque do Hamas? Como tem sido a resposta de Israel aos civis palestinos?
O Hamas é o maior entre os vários grupos islâmicos palestinos e seu nome é um acrônimo árabe para Movimento de Resistência Islâmica. Seu objetivo é a destruição do Estado de Israel para que o Estado da Palestina tome o espaço de toda Palestina Histórica.
O Likud, partido de Netanyahu, nunca escondeu que seu objetivo é ter todo o mesmo espaço, a chamada Grande Israel. Ou seja, o objetivo do Likud, que significa Unidade, também é ter todo o espaço almejado pelo Hamas.
Bibi Netanyahu já estava no poder há nove anos, à frente da ofensiva israelense que chacinou e amedrontou para sempre os meninos e meninas retratados no documentário.
A pergunta que fica evidente é: onde e como estarão eles hoje? Quantos sobreviveram?
“Eu gostaria de entrar na resistência e fazer justiça por meus primos mortos”, diz um dos garotinhos. Um choque de realidade em um universo colonialialista de guerras entre grupos mergulhados na profunda desigualdade financeira e penúria social.
Se os EUA quisessem de fato a paz, não vetariam propostas como a do Brasil. O que esperar das próximas gerações que vão sobreviver nesse inferno? A resposta de uma das crianças é definitiva: “Onde não se consegue dormir é difícil sonhar”.