Isadora Faber e João Pedro C. Motta brilham no prêmio The Bobs, concedido pelo site alemão DW.
O texto abaixo foi publicado na versão em português do site alemão DW.
Imagine um concurso internacional reunindo o que há de melhor da mídia social de diversos países. Para cada região linguística, dez perfis na rede social foram selecionados para participar da votação online, onde os próprios usuários escolhem a melhor pessoa a seguir no Twitter, no Facebook e em outras redes. É o caso do The Bobs, concurso internacional do site alémão Deutsche Welle que premia o melhor do ativismo online em 14 línguas.
Entre os concorrentes da língua portuguesa, uma menina de 13 anos e um rapaz de 17 se revezam no primeiro e no segundo lugar.
Através de seus perfis no Facebook, Isadora Faber e João Pedro C. Motta foram indicados para concorrer ao prêmio de Melhor Pessoa a Seguir na Língua Portuguesa, uma nova categoria que o Bobs introduziu neste ano, sua nona edição.
Os jovens brasileiros estão bem à frente dos demais candidatos da categoria e parece que, até a definição dos vencedores, no próximo dia 7 de maio, a situação não deverá mudar.
Com 13 anos, a catarinense Isadora Faber já conta com 615 mil curtidores em sua Fan Page do Facebook Diário de Classe SC. No início deste ano, o jornal Financial Times mencionou Isadora numa lista de 25 brasileiros de destaque, que incluía, entre outros, o jogador Neymar, o artista Vik Muniz e a modelo Gisele Bündchen.
Isadora tornou-se conhecida por relatar no Facebook os problemas da escola pública que frequenta em Florianópolis. Desde julho do ano passado, os relatos postados por ela já lhe trouxeram desde ameaças de processo por parte dos professores a um encontro com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.
Em entrevista à DW Brasil, a mãe de Isadora, Mel Faber, explica que em sua casa sempre houve computadores. “Meu marido trabalha com edição de imagens, minha filha mais velha é engenheira de computação, logo, sempre tivemos computadores e internet em casa. Então acho que desde antes de escrever, a Isadora já estava brincando na internet. Sempre teve MSN, Orkut e finalmente o Facebook”, conta.
Segundo Mel Faber, a irmã mais velha, Ingrid Faber, de 25 anos, mostrou para Isadora o blog da escocesa Martha Paine, o neverseconds.com, onde ela reclamava da merenda. “A Isadora se deu conta de que sua escola tinha problemas muito mais sérios do que a escola da Martha, então resolveu fazer o Diário de Classe para mostrar as deficiências da escola. Nunca imaginou alcançar toda essa repercussão. No início, ela pensava que apenas umas 100 pessoas iriam curtir, alguns colegas e familiares, hoje tem mais de 615 mil curtidores. Foi uma grande surpresa para todos.”
A mãe de Isadora diz acreditar que os mais jovens têm mais facilidade, na grande maioria, para as mídias sociais.
“Vejo que pessoas acima dos 50 anos têm muita dificuldade e têm medo do computador, sabem fazer apenas o básico, quando sabem. Meu Facebook é de 2011 e minha página é de junho 2012”, afirmou Faber. “Tenho três filhas – 25, 16 e 13 anos. Todas passam muito tempo na internet, ainda mais agora com os smartphones. Estão sempre conectadas. Eu tenho 45 anos e meu marido 46 e nós não estamos todo dia na rede, como elas. Usamos mais o computador e pouco o smartphone. Entramos no Facebook à noite.”
João Pedro C. Motta, também chamado de “OficialJoao” nas redes sociais, é outro fenômeno da internet. Aos 17 anos, ele já é um “velho conhecido” na mídia social brasileira, realizando palestras em todo o país. Em conversa com a DW Brasil, ele disse que começou a programar aplicativos com 11 anos de idade e hoje mora sozinho em São Paulo, onde trabalha para diversas empresas e está agora captando recursos para montar sua própria firma Play, uma startup para ouvir música online por streaming.
“Não acho que a juventude entenda melhor a mídia social, o que eu acho é que faz parte do jovem se comunicar, faz parte do jovem querer conversar com outras pessoas, principalmente com seus amigos”, diz ele. “No meu caso, por exemplo, abrir uma conta na rede social foi tão natural quanto andar.”
Quanto ao futuro da internet e da geração jovem que agora está na rede, João Pedro afirma que pessoas como ele e Isadora “já nasceram conectadas”. “Eu não entro na internet – eu estou na internet o tempo todo, seja no meu computador, no meu notebook, no meu tablet, no meu celular”, diz.
A internet, afirma João Pedro, já faz parte dele. “Não é como antes que alguém chegava depois da escola ou depois do trabalho, olhava no desktop durante 10 minutos, lia as notícias e depois ia embora. Hoje, as pessoas estão online o tempo todo”, afirma.
Para ele, a internet veio para facilitar e vai se integrar a todas as pessoas, não só aos mais jovens: “Isso aconteceu conosco porque, pelo fato de a gente ter mais tempo livre, disponibilidade, conseguimos descobrir isso primeiro.”
Segundo João Pedro, o Facebook não é algo imprescindível para a vida, mas é algo que pode facilitá-la: “Acho que daqui a alguns anos vai ser impossível existir alguém que não esteja nas redes sociais, a não ser que essa pessoa não tenha família, amigos ou nenhum tipo de relação.”
Ele afirma que não conseguiria ter chegado aonde chegou se não fosse a internet e as redes sociais em geral. “Primeiro porque sou uma pessoa muito tímida. E, na internet, eu vi um lugar onde eu posso ser quem eu sou sem ter vergonha disso”, comenta.
Segundo as pesquisas, a forte presença de jovens como Isadora Faber e João Pedro C. Motta na internet brasileira não é uma absoluta surpresa. De acordo com dados do Ibope Nielsen Online, em setembro do ano passado, por exemplo, por volta de 5,2 milhões de crianças de 2 a 11 anos navegaram na internet em lares brasileiros.
E segundo estudo realizado pela empresa de segurança Trend Micro, no final de 2011, as crianças brasileiras são as mais jovens a entrar em redes sociais. A pesquisa realizada em sete países apontou que, enquanto a idade média mundial em que as crianças entram na rede social é de 12 anos, no Brasil, elas começam a usar esse tipo de site aos 9 anos – o que também faz com que muitos pais abram conta nas redes sociais para monitorar os perfis de seus filhos. De acordo com o estudo, nove entre dez pais brasileiros afirmaram ser “amigos” dos filhos nas redes sociais.
Para a blogueira brasileira e jurada do Bobs para a Língua Portuguesa, a jornalista Rosana Hermann, no começo do Twitter, a adesão jovem era menor. “Dizia-se “teens don’t tweet” [adolescentes não tuitam]”, conta. “Os adolescentes preferiam redes como o Facebook, que ainda é uma das preferidas. Jovens gostam de colecionar momentos, fotos, amigos, histórias, e o Facebook tem exatamente esse escopo, o de arquivar em ordem cronológica.”
Segundo Hermann, o Twitter é efêmero, descartável, é coisa de momento. Mas, à medida que muitos pais começaram a entrar no Facebook para supervisionar as atividades dos filhos, os jovens começaram a usar outros meios, como aplicativos “só para jovens”, como o snapchat.
Hermann afirma que “o jovem, nativo digital, precisa ter um espaço na rede que seja frequentado só por seus pares, um cantinho”. “Ele sempre vai frequentar o lugar onde todos estão, mas sempre vai procurar um refúgio só seu”, diz.