João Doria tinha dois objetivos quando inventou o “Bolsodoria” em 2018.
O primeiro era se livrar do peso-morto Geraldo Alckmin.
O segundo era a certeza de que Bolsonaro não podia dar certo como presidente e que alguém iria herdar os zumbis que apertaram o número 17 nas urnas.
O plano funcionou pela metade.
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O gestor conseguiu se livrar do padrinho insosso, mas os zumbis… Esses não só ficaram ao lado do “mito” como colaram em Doria a pecha de traíra (sejamos justos, não estão errados nisso).
Como a emenda emporcalhou o soneto, o governador de São Paulo tenta uma nova cartada para viabilizar sua candidatura ao Planalto em 2022.
Ela passa pela elite que tem nojinho de Bolsonaro e ódio visceral a uma proposta de governo popular, encabeçada por alguma liderança do PT ou do PSOL, por exemplo.
O tabuleiro para atrair a atenção desse público já começou a ser montado. Rodrigo Maia, ex-presidente da câmara dos deputados e carioca da gema, é um dos protagonistas.
Vai assumir um cargo no primeiro escalão no governo de São Paulo. A pasta responde pelo pomposo nome de Projetos e Ações Estratégicas.
Finalidade? Desestatização, parcerias público-privadas (PPPs) e concessões. Resumo: tudo o que os homens de negócios adoram.
Quem se importa se o governo caminha para o fim e que Rodrigo Maia não deve ficar nem seis meses na função porque terá de ser exonerado no início do ano que vem para tentar a reeleição na câmara?
Doria também tem uma carta na manga para atrair um público importante: os jovens.
Deu um cargo no governo a Tomás Covas, 15 anos. Ele é filho de Bruno Covas, que morreu no início do ano vítima de um câncer avassalador.
Tomás debutou no grande palco da política em reunião do diretório paulistano do PSDB nesta quinta, 18. Foi aplaudido. Ganhou status de estrela.
Doria esqueceu de combinar com os russos
Outro ponto a favor de Doria é o apoio de Fernando Henrique, decano da elite refinada de São Paulo. Finalmente se manifestou em favor da candidatura do gestor – a contratação de Rodrigo Maia, garoto de recado do mercado tem o dedo do ex-presidente.
Só que tem uma coisa: Doria hoje não é rejeitado em São Paulo, cidade que usou como trampolim para chegar ao governo do estado e, quem sabe, ao palácio do Planalto.
Ele agora é também odiado no interior, a faixa de gaza do conservadorismo nacional. É visto como traidor e insensível por ter inviabilizado interesses econômicos durante a pandemia.
O gestor, na realidade, está perdido do ponto de vista eleitoral.
A contratação de Rodrigo Maia é o melhor exemplo: agrada a elite da direita, mas não soma um voto sequer no baixo escalão do conservadorismo – um grupo continua com Bolsonaro e outro o culpa pelas mazelas do caixa quase zerado.
Isso para não dizer do próprio PSDB, um partido dividido que perdeu o bonde da história. O céu não é de brigadeiro para o gestor.