O ex-presidente Lula – o político e a persona – é assunto entre todos os brasileiros. Os do tipo apoiadores de Bolsonaro torcem para que tenha uma morte lenta e dolorosa.
Os direitistas menos autoritários contentem-se com prisão perpétua, desde que sem qualquer regalia, porque petista safado tem mais é que sofrer.
Os esquerdistas mais eufóricos veneram-no, especialmente quando ele aparece na internet dando uma sarrada no ar. Os que desistiram de pensar e fazer política brasileira – sábios, dadas as circunstâncias – querem apenas justiça, embora dificilmente saibam o que significa.
O fato é que a perseguição a Lula – que é a perseguição ao PT condensada em uma figura – é unânime: bolsonaristas, direitistas liberais e (especialmente) esquerdistas eufóricos reconhecem que a justiça não é para todos – a justiça, na verdade, há muito não dá as caras.
O jogo de pega-pega parece recreio de oitava série.
Exemplos: exigiram condução coercitiva de alguém que não apresentava risco de fuga ou reação violenta, e chamaram a imprensa pra assistir: o grande espetáculo na arena da política brasileira.
Antipetistas, exaltados, gozaram. Não satisfeitos, a audiência de oitiva do ex-presidente foi marcada – por acaso, é claro – no dia do aniversário da morte de sua esposa. Ninguém tem prova, mas sobra-lhes convicção – uma odiosa convicção.
O ódio ao PT, especialmente na classe média, é tão absurdo que beira o patético: de bonecos infláveis com roupa de presidiário à foto de uma mulher de pernas abertas em um tanque de gasolina, vale tudo.
João Doria, o social media que faz bico como prefeito de SP, surfou na onda do ódio: informou à imprensa – Dória realmente adora a imprensa – que considera “injusta” a homenagem feita à ex-primeira dama e militante Marisa Letícia com a nomeação de um viaduto em SP.
As mulheres lideradas por Marisa em 1980, se, com sorte, estiverem vivas, decerto discordam. Discordam as pessoas que não comungam do ódio gratuito a um partido que cometeu e comete erros, mas não será apagado da história.
Injusto é que um político use mais de seu tempo fazendo autopromoção do que política.
Injusto é que usuários de crack sejam tratados como escória, e não como seres humanos que estão doentes e precisam de ajuda.
Injusto é que se tenha, no Brasil, gente que brinca de política e enche os bolsos de dinheiro.
Mas nada disso interessa ao Doria, se estiverem intactos os seus likes.