Dossiê DW: Como Elon Musk usa seu dinheiro para impor agenda de extrema direita mundo afora

Atualizado em 27 de outubro de 2024 às 20:41
Donald Trump e Elon Musk em comício – Foto: Jasper Colt

Por Janosch Delcker, em DW

Para o homem mais rico do mundo, administrar um império empresarial parece não ser suficiente. Elon Musk, de 53 anos, proprietário de algumas das empresas mais conhecidas do mundo – como a aeroespacial SpaceX, a montadora Tesla e a rede social X – também se tornou um ator visível na política mundial nos últimos meses.

Nos Estados Unidos, onde um novo presidente será eleito em 5 de novembro, Musk declarou apoio ao candidato republicano, Donald Trump, que retribuiu prometendo ao empresário um papel de liderança no governo, caso seja eleito.

Musk costuma usar a influência que tem por causa de suas empresas para participar do debate político em países de todo o mundo, do Brasil à Alemanha.

Essa intervenção aberta e visível de Musk em temas políticos, que não encontra paralelo em outros empresários famosos, evidencia como algumas poucas empresas privadas de alta tecnologia e seus executivos detêm um poder cada vez mais incontrolável sobre decisões que normalmente cabem a governos, alertam especialistas.

Bilionário Elon Musk – Foto: Beata Zawrzel/NurPhoto via Getty Images

“Os tipos de tecnologias que Musk opera são altamente críticos, e as empresas que ele possui são incrivelmente influentes e estão posicionadas em pontos-chave em termos de acesso à informação e geopolítica”, disse a especialista em políticas cibernéticas Marietje Schaake, da Universidade de Stanford, autora de The Tech Coup: How to Save Democracy from Silicon Valley (O golpe tecnológico: como salvar a democracia do Vale do Silício).

“Musk não está apenas administrando essas empresas para maximizar o sucesso delas”, disse Schaake, ex-membro do Parlamento Europeu pelo partido liberal-social Democratas 66. “Ele também as está usando como ferramentas para sua própria agenda geopolítica.”

De autoproclamado moderado a ultraconservador

Desde que fundou sua primeira empresa, em meados da década de 1990, o empresário sul-africano criou uma série de empresas bem-sucedidas e acumulou uma fortuna estimada em mais de 243 bilhões de dólares.

Seu talento para transformar startups em líderes de seus setores lhe deu um controle cada vez maior sobre a infraestrutura digital crítica e gradualmente o ajudou a expandir sua influência política.

Atualmente, a Nasa depende da empresa espacial SpaceX para lançar seus satélites. A Starlink, uma subsidiária da SpaceX, fornece internet de banda larga para alguns dos lugares mais remotos do mundo e se tornou uma ferramenta indispensável para militares em zonas de conflito, como a Ucrânia.

Com a aquisição do Twitter em 2022, posteriormente rebatizado de X, Musk também obteve o controle de uma das redes sociais mais conhecidas e influentes.

Em paralelo, o empresário – que antes se identificava como moderado à margem da política – tem se alinhado cada vez mais a posições ultraconservadoras, opondo-se abertamente a ideais de esquerda que considera prejudiciais ao futuro da sociedade.

Apoio político explícito

O envolvimento político de Musk atingiu novos patamares nestas semanas que antecedem as eleições nos Estados Unidos. Depois de Trump ser vítima de um atentado, em meados de julho, Musk o apoiou publicamente. Entre julho e meados de outubro, Musk contribuiu com quase 119 milhões de dólares para um comitê de arrecadação de fundos para a campanha de Trump, de acordo com relatórios financeiros da campanha republicana.

Nos últimos dias, ele chamou a atenção por oferecer dinheiro para que eleitores registrados em sete estados decisivos assinassem uma petição. Todos os dias até a eleição, um signatário é selecionado aleatoriamente e ganha 1 milhão de dólares.

Esse envolvimento político explícito é incomum entre as elites empresariais dos EUA. “O relacionamento entre Musk e Trump revela um nível de influência que a maioria dos magnatas dos negócios prefere manter fora do radar”, diz Schaake.

“As ações de Musk parecem mostrar que ele acredita que pode fazer o que quiser”, acrescentou, em referência às frequentes tentativas de Musk de interferir no debate político de outros países, como no caso recente do Brasil, onde teve uma queda de braço com o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

E se Trump vencer?

O que fica evidente é que esses esforços de Musk têm como objetivo obter ainda mais influência caso Trump seja reeleito em novembro. “É bem provável que ele queira que Trump assuma certos compromissos na política externa no que diz respeito a seus negócios”, disse Schaake.

Um primeiro vislumbre disso foi oferecido no final de setembro: o companheiro de chapa de Trump, J. D. Vance, sugeriu que os EUA poderiam reconsiderar seu apoio à Otan se a União Europeia avançasse com as regulamentações voltadas para as redes sociais, especificamente o X. A UE está atualmente investigando o X por possíveis violações de novas regulamentações de plataformas online, o que pode resultar em pesadas multas.

Essa concentração de poder sobre a infraestrutura digital crítica representa um risco para a democracia, alertou Schaake. “Musk é imprevisível: suas posições podem mudar da noite para o dia”, observa. “E quando alguém que controla produtos e infraestrutura importantes muda de ideia, as consequências também são significativas.”

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