A advogada Liliane Fontenele, conhecida como “Doutora Pix”, foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal às 6h da manhã desta quinta-feira (17), no município de Itajaí, no litoral de Santa Catarina. A diligência é parte da Operação Lesa Pátria, que visa identificar pessoas que incitaram, participaram e bancaram os atos do dia 8 de janeiro deste ano. Foram apreendidos documentos, um telefone celular e um notebook da advogada.
Logo após as buscas na residência de Fontenele, os policiais se dirigiram a seu escritporio profissional, onde novos documentos foram apreendidos. Depois, a advogada foi à sede da PF para prestar depoimento.
Conforme o DCM revelou em uma série de reportagens, a “Dra. Pix” se notabilizou por usar sua própria conta bancária e realizar pagamentos via PIX para o financiamento da caravana de manifestantes golpistas que foram de Santa Catarina a Brasília e invadiram as sedes dos Três Poderes. Parte dos que viajaram na excursão golpista patrocinada pela advogada encontram-se presos na Papuda e na Colmeia até hoje.
Em janeiro deste ano, Ministério Público de Santa Catarina recebeu na última quarta-feira (18) uma notícia-crime contendo um relatório que aponta as atividades golpistas praticadas por políticos, empresários e advogados do estado desde a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições do ano passado.
No documento, constam provas materiais e documentais das ações ilegais dos apoiadores do ex-presidente, incluindo incitação a um golpe militar, financiamento dos atos de vandalismo em Brasília no último dia 8 e apologia aos crimes de homicídio e lesão corporal grave.
Os dados e as provas foram compilados pela assessoria jurídica da direção municipal do PT de Itajaí, que tomou a iniciativa de fazer uma investigação própria – com base em bancos de dados e informações públicas – diante da inação das autoridades de fiscalização e controle locais, que assistiam passivamente até agora ao funcionamento de um acampamento em área pública na cidade e à conspiração para atos de violência e atentado à democracia.
Meses após a entrega do documento às autoridades de investigação, Gerd Klotz, presidente do PT de Itajaí, agora, comemora o resultado:
“O PT de Itajaí sempre acreditou nas nossas instituições e na importância de defendermos nossa democracia tão frágil e em risco. Agradecemos o trabalho jornalístico do DCM, que informou ao país sobre nossa luta desde as primeiras ações que encampamos contra os golpistas que ocuparam vias públicas em frente à Delegacia da Marinha em Itajaí, ocorridas com a complacência e leniência das autoridades locais. Continuaremos firmes na luta”.
Já o advogado do PT no município, Marcelo Saccardo Branco, que compilou as denúncias enviadas ao MP-SC, afirmou que “finalmente, após sete meses da nossa denúncia, ela surtiu efeito, com essa operação da Polícia Federal contra a Dra. Pix. Entendemos que a demora se deve ao grande número de envolvidos nos atos golpistas, e todos acabarão por ser responsabilizados”.
Em que pese as evidências abundantes de sua articulação e financiamento dos atos de 8 de Janeiro, a Doutora Pix não abandonou qualquer hábito que mantinha antes da tentativa de golpe frustrada do início do ano, continuou se encontrando com persolidades do bolsonarismo catarinense, como as deputadas federais Júlia Zanatta (PL-SC) e Caroline de Toni (PL-SC).
Não abandonou qualquer hábito, a não ser um.
Ela deixou de gravar vídeos no aplicativo Tik Tok, onde a advogada conservadora mantinha uma conta apenas com cenas requebrando ao som de funks como “Sentadão”, do cantor “JS, o Mão de Ouro”. Fontenele apagou a conta logo após o DCM reproduzir um de seus vídeos. Veja abaixo.
Empresária que pediu que pobres não deixem de ser motoboy do Ifood também recebeu visita da PF
Também foi alvo da operação da PF a empresária Adriana Keller. Ela nunca precisou receber o Bolsa-Família. Ela e sua família, os Keller de Itapema (SC), são conhecidos donos de incorporadoras imobiliárias e empresas de crédito em Santa Catarina. Ela prória figura como proprietária em algumas delas (outras estão em nome de seus irmãos e outros parentes).
Na organização dos atos golpistas gestados em Santa Catarina, Adriana Keller agiu como braço direito de Liliane Fontenele, a “Doutora Pix”. Organizou a excursão golpista a Brasília, os grupos de Whatsapp e o financiamento da tentativa de golpe de Estado, conforme apontam as provas contidas no relatório entregue à promotoria catarinense.
No dia 8 de janeiro deste ano, em meio à euforia que sentia pela invasão e depredação dos prédios da República, ela teve que lidar com a descoberta de uma “infiltrada comunista” em um dos grupos de Whatsapp que administrava. E, então, irritou-se, gritou, mostrou quem é.
Em mensagem de áudio enviada ao grupo, reclamou que pessoas como aquela infiltrada deveriam estar trabalhando com Uber ou como motoboy do Ifood, mas, graças ao programa Bolsa-Família (pago ao Brasil todo por “pessoas do Sul”, como ela, Adriana), tinham abandonando seus empregos, deixando a empresária carente dos serviços de que gostaria de usufruir. Ouça reprodução abaixo, copiada pela reportagem dentre as diversas gravações contidas no relatório que está em posse do Ministério Público de Santa Catarina.