O ministério é mais ou menos como o esperado. Nomes de integral confiança, como Haddad e Dino; aliados de primeira hora; acomodação do Centrão; “representatividade” nas pastas menos disputadas.
Diante do projeto que Lula empunhou na campanha, a nominata não decepciona. A frustração com a Educação, onde se sonhava com alguém mais comprometido com a escola pública, é compensada com a boa escolha para a Saúde.
Mas duas escolhas parecem particularmente equivocadas, diante do projeto estratégico de recompor e solidificar a democracia brasileira.
O Ministério da Defesa precisaria de alguém disposto a enfrentar o golpismo e a aversão da elite militar à democracia. José Múcio, mais interessado em fazer elogios a Bolsonaro e apaziguar os generais, não é essa pessoa.
Fica sinalizado que, mais uma vez, a opção será por tampar o sol com a peneira, contemporizar com a gorilagem e não intervir nas Forças Armadas – na educação, nas promoções, na ideologia.
Isso pode evitar tensões no curto prazo. Mas faz com que nossa retomada democrática esteja ameaçada de forma permanente. Na prática, mantém uma tutela potencial sobre o poder civil.
O segundo grande equívoco é entregar o Ministério das Comunicações a um político oportunista, do Centrão, que compôs a base de apoio do Bozo.
O ministério é disputado porque tem verba. Mas cabe a ele regular a mídia – que é outro ponto crucial de estrangulamento para a vigência da democracia no Brasil.
Trata-se de expandir o pluralismo da mídia tradicional (hoje toda alinhada ao projeto neoliberal), de regular o poder das novas mídias e de enfrentar a desinformação promovida pela extrema-direita.
O que está em jogo é a qualidade do debate público no Brasil – logo, da democracia que vamos construir. Ao entregar as Comunicações a Juscelino Filho, Lula mostrou que ainda não entendeu isso.