O jornalista Pedro Zambarda postou uma mensagem no Twitter à qual não dei a atenção devida no momento.
“Dilma: dê entrevistas não só para a Folha mas para sites como o DCM.”
Ao ler a ombudsman da Folha hoje, percebi quanto ele estava certo.
Vera Guimarães se gaba de Dilma haver escolhido a Folha para dar a entrevista, e não alguém do seu “círculo bajulatório”.
Antes de mais nada, eu gostaria de saber o que ela julga “círculo bajulatório”. Suponhamos que Aécio decidisse conceder uma entrevista a alguém.
Ele escolheria alguém fora de seu “círculo bajulatório”?
Mas esta é uma discussão adjacente. Vera repete, pelo que pude entender, o argumento que tenta desqualificar os sites progressistas como “governistas” – quando eles são, fundamentalmente, contra o tipo de jornalismo que a Folha representa.
Mas sigamos.
O que fez Dilma “escolher” a Folha?
Primeiro, e acima de tudo, a inércia. Há um universo florescente no jornalismo digital, mas o governo parece não ter se dado conta disso.
Nem o núcleo central do governo e nem as pessoas e departamentos que gravitam em torno dele.
No âmbito das estatais, um retrato disso está na maneira como elas anunciam.
Quando a verba da internet no bolo total da publicidade já está na casa de 40% a 50% em países como a Inglaterra e a Dinamarca, as estatais brasileiras destinam ao mundo digital dez vezes menos.
Há agora, segundo se noticia, uma recomendação para que as estatais destinem 15% de seus investimentos publicitários para a internet.
Mas, como mostram os levantamentos sobre a publicidade estatal, 15% é um número ainda distante – ainda que modesto em comparação com o que ocorre no mundo.
É como se vivêssemos, ainda hoje, na Era da Tevê, e não na Era Digital.
É o mesmo fator – inércia, conservadorismo – que está por trás de outras coisas.
Por exemplo: por que o último debate numa campanha presidencial tem que ser na Globo?
Os índices de audiência não explicam isso, mas a inércia. Um dia alguém vai se perguntar: ainda faz sentido? O mapa do Ibope da Globo é uma calamidade: o público está na internet, não na tevê.
E aí então as coisas vão mudar.
Até lá, para voltar à ombudsman, presidentes continuarão a escolher a Folha.
Mas o jornalista Pedro Zambarda está enxergando mais longe que a ombudsman, e que Dilma, definitivamente.