E lá vai Serra, mais uma vez, no que parece ser seu papel favorito: o de vítima.
Na campanha presidencial, Serra tentou se apresentar como semimártir da liberdade ao dar ares de ataque terrorista a uma bolinha de papel arremessada em sua direção.
Agora, ele se esforça por dar importância a um episódio de profunda irrelevância: um vídeo tosco e inofensivo de um rapper conhecido, ou semiconhecido, como MC Mamuti 011. O pretexto para a indignação de Serra é que, numa cena, ele aparece ao lado de Hitler.
Mamuti, vi numa entrevista, parece não saber quem é Hitler. Disse que colocou os dois juntos porque ambos, segundo ele, têm “nojo do povo”.
Ora.
Hitler tinha problema especificamente com os judeus e os comunistas. O melhor modelo de comparação para Mamuti teria sido o presidente João Figueiredo, o último da ditadura militar. Pouco antes de assumir, Figueiredo, numa entrevista ao jornalista Getúlio Bittencourt, da Folha, disse que preferia cheiro de cavalo ao cheiro do povo.
Alguém colocou o desabafo de Mamuti no site da campanha de Haddad, e Serra mostrou uma indignação que remete à provocada pela bolinha de papel. O vídeo foi retirado do site, mas pode ser visto ainda no YouTube. Haddad afirmou que o responsável pela inclusão da obra de Mamuti foi demitido. Se é verdade, foi um exagero.
Mas hmmmm. Tenho minhas dúvidas sobre essa alegada demissão. Suspeito de que Serra fingiu o sentimento de ultraje e Haddad fingiu que demitiu, num bonito duelo de simulações.
A simpatia do Diário, no episódio, vai toda para o Mamuti, com sua revolta desorientada mas genuína, expressa num rap que jazeria merecidamente na obscuridade eterna se Serra não projetasse luzes sobre ele.