Se há um livro para se ler neste momento é “A Peste”, de Albert Camus.
Numa cidade, Oran, devastada por um epidemia, um médico, Bernard Rieux, ensina a lidar com o absurdo.
Rieux discute, numa altura, com o jornalista Rambert sobre como encarar a tragédia. “Essa coisa toda não tem a ver com heroísmo”, diz.
“Pode parecer uma idéia ridícula, mas a única maneira de combater a praga é com decência.”
O outro lhe pergunta o que é isso.
“Não sei o que é, em geral. Mas, no meu caso, sei que não é mais do que fazer meu trabalho”.
É o que se espera de cada um de nós quando se luta contra o coronavírus, é o que se deveria esperar do presidente da República.
Questionado ontem sobre o recorde de mortes registradas no Brasil em 24 horas, ultrapassando a China, o sujeito respondeu:
“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.
É a glorificação da cafajestagem, da falta de empatia, do desprezo pelo cidadão, da morte — da indecência.
Temos no comando um homem incapaz de trabalhar, de fazer o que se espera dele.
É o mínimo, mas para Bolsonaro e seus acólitos é querer demais.
Ele é o retrato dos ratos de Camus, que aparecem no início do romance espalhando a moléstia.
“Tudo o que o homem pode ganhar no jogo da peste e da vida é o conhecimento e a memória”, afirma.
Conhecimento e memória. Que nos sirvam de alerta para quando o bolsonarismo passar.
O inacreditável de hoje:
Bolsonaro sobre as mortes: “e daí? O que vc quer que eu faça? Sou Messias, mas não faço milagre”.https://t.co/LBpTQPMSz2
— Bruno Gagliasso ? (@brunogagliasso) April 29, 2020