Duas coisas são certas na corrida pela prefeitura de São Paulo. 1) Marta Suplicy vai receber uma cobertura majestosa da mídia; 2) consequentemente, ela vai falar muita bobagem.
Uma amostra disso veio numa entrevista que ela concedeu nesta sexta à Jovem Pan, a rádio que fez a CBN parecer uma célula comunista..
Em sua sede de vingança contra o PT, Marta atacou Haddad num ponto simplesmente inatacável: a diminuição das mortes nas marginais de São Paulo depois da redução da velocidade máxima permitida.
Levantamento da CET diz que o número de acidentes com vítimas, num determinado período, caiu 36% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Também a lentidão, de acordo com o mesmo estudo, se reduziu. Os congestionamentos passaram de 124,4 quilômetros para 104,8 quilômetros, uma queda de 6%.
Quer dizer: menos sangue e menos engarrafamento nas Marginais.
Pois foi isso que Marta conseguiu (tentar) desqualificar.
Ora, ora, ora.
Marta alegou que São Paulo é uma “cidade elétrica”, e que não pode andar devagar. Faltou dizer: ainda que mais gente morra, temos que acelerar.
Engraçado é que Marta não contesta o estudo em si. Para tanto, ela teria que mergulhar nos números para achar eventuais incoerências na metodologia.
Não.
Ela optou pelo caminho mais fácil. Disse que outros fatores devem explicar a queda nos acidentes com vítimas.
Mas um momento: que fatores? Alguma pista?
Nenhuma.
Deus decidiu proteger os usuários das Marginais? O diabo estava de folga no período da avaliação?
Marta não disse nada. E nem lhe foi cobrada uma explicação, qualquer que fosse, para o que dissera.
Isso demonstra o que todos já sabíamos: os microfones da mídia estarão à sua disposição, e sem que haja questionamentos.
O que se quer dela é que bata em Haddad. Ponto.
De resto, a São Paulo “elétrica” parece indicar uma opção pelo automóvel em detrimento das bicicletas. Marta já andou falando em “ciclotintas”.
Com enorme atraso em relação a outras metrópoles abarrotadas de carros, São Paulo dá com dificuldade seus primeiros passos na Era das Bicicletas.
A chamada mobilidade urbana entrou, enfim, no dicionário paulistano. Já era uma expressão amplamente usada nas grandes cidades do mundo, mas prefeitos como Serra e Kassab a ignoraram solenemente.
Quando enfim São Paulo começa a andar de bicicleta, Marta fala em ciclotinta e numa cidade elétrica.
Quer dizer: o que ela está propondo é um retorno ao passado. E para viabilizar este retorno vale tudo – até apontar defeitos na redução das mortes nas marginais.