Mesmo considerando dados oficiais subnotificados, o morticínio por COVID no Brasil superou meio milhão de brasileiros. E com viés de alta, como indica a média diária ao redor de 2 mil óbitos.
O Brasil avança para ser ter a maior mortandade em todo planeta. Em que pese representar 2,7% da população planetária, o país responde por 12,9% do total de perdas humanas no mundo – atrás, temporariamente, apenas dos EUA neste ranking tétrico.
As perspectivas poderão ser ainda mais assombrosas. O Plano de Imunização é marcado por incertezas e atrasos devidos ao descalabro do governo militar, que sabotou a compra de vacinas e de insumos para a produção nacional de imunizantes.
O governo, além disso, trabalhou pela propagação intencional do vírus, como evidenciou o Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário da USP. Fez uma aposta na contramão dos protocolos sanitários internacionais e da ciência.
O Exército brasileiro fabricou e distribuiu o veneno cloroquina, inclusive para as populações indígenas, mesmo conhecendo a opinião científica mundial que atestava sua total ineficácia e seus riscos à saúde e à vida humana.
Por conta deste conjunto de fatores o Brasil, que tem a taxa mais elevada de novos casos confirmados que todos demais países, é um território fecundo para a proliferação descontrolada de novas variantes do vírus.
A experiência mundial mostra que a partir do momento em que se inicia o declínio sustentável de mortes [que não é a realidade do Brasil hoje] até ocorrer a redução da epidemia a níveis “controláveis”, ocorre pelo menos a mesma quantia de óbitos do período ascendente.
Isso significa, para nosso assombro, que se o Brasil iniciasse hoje a queda sustentável de mortes, ao final da pandemia contabilizaria pelo menos 1 milhão de óbitos.
Esta hecatombe, negada e desprezada pelo governo militar, que é insensível à dor e ao luto do país, só encontra equivalência de comparação com outras grandes chacinas da história. O jornal Folha de São Paulo mostra [20/6] que o “número de vítimas de COVID-19 no Brasil já é maior que 8 genocídios” ocorridos no mundo do início do século 20 aos anos recentes.
Vale lembrar, para ilustração, que o bombardeio nuclear de Hiroshima pelos EUA em 1945 matou 140 mil japoneses – quase 4 vezes menos que os 500 mil mortos por COVID no Brasil.
Em 15 meses morreram por COVID no Brasil o equivalente a 1/3 das vítimas do nazismo em Auschwitz em 5 anos, entre 1940 e 1945. Este número equivale às perdas de 10 guerras do Paraguai, quando o país teve 50 mil baixas entre os anos de 1864 e 1870.
Este é, portanto, um dos períodos mais mortíferos da história do Brasil. Somente é equiparável à dizimação de indígenas e negros vitimados brutalmente durante séculos pela oligarquia branca, patriarcal, escravocrata, racista e colonial – sempre, claro, com a ajuda das Forças Armadas.
Na visão de epidemiologistas, 3 de cada 4 destas 500 mil mortes poderiam ter sido evitadas se o governo tivesse agido com base na ciência e nos protocolos da OMS. Isso significa que cerca de 375 mil vidas humanas poderiam ter sido salvas não fosse a omissão, a negligência, a incompetência e, sobretudo, a gestão criminosa da pandemia pelo governo dos militares.
No código penal, isso é tipificado como homicídio. Pode-se discutir nuances, se é homicídio culposo ou doloso, mas dificilmente deixará de ser homicídio. À luz do direito internacional, poderá ser caracterizado como crime contra a humanidade, senão de genocídio.
É preciso investigar a responsabilidade por este processo macabro que deverá superar a cifra de 1 milhão de vidas humanas ceifadas.
Neste sentido, a culpa do partido dos generais pela hecatombe deve ser investigada. Eles designaram para conduzir o enfrentamento da pandemia no posto de ministro da Morte um general da ativa, o general Eduardo Pazuello.
Do alto da sua ignorância científica, eles apostaram que o coronavírus começaria a recuar, e bastaria uma espécie de capataz de almoxarifado – um general de intendência tosco como Pazuello – para gerir o processo até um final glorioso que levaria à consagração do Exército na salvação nacional. Mas o problema é que o cálculo deles deu errado, e muito errado!
Na CPI, Pazuello assinalou a origem “partidária” da indicação para o cargo: “Eu acredito que as indicações vieram dos oficiais generais …. acredito que veio do grupo de oficiais que trabalhavam com o Presidente”, respondeu o general paspalhão à pergunta do senador Renan.
Apesar da responsabilidade central no morticínio, o partido dos generais está conseguindo se safar na CPI e, também, está conseguindo livrar o governo militar de qualquer culpa [aqui].
Bolsonaro é apenas a ponta visível do iceberg gigante e oculto que opera no subterrâneo, de onde comanda toda engrenagem que está por trás do processo de destruição do país.
Bolsonaro funciona como o biombo que esconde quem de fato domina e controla toda situação, que são os comandantes militares, através do partido dos generais, que planejaram sua candidatura, coordenaram sua campanha, montaram seu governo, infestaram o aparelho de Estado, ocupam os ministérios, agências, estatais e cargos suculentos, e agora conspiram contra a democracia e o Estado de Direito para escalar uma ditadura fascista-militar.
É preciso responsabilizar o governo militar, que tem Bolsonaro como biombo, pelo morticínio de centenas de milhares de brasileiros e pela devastação do Brasil. A luta pelo Fora Bolsonaro tem de se combinar com a luta pelo fim do governo militar.