Sem Blatter, que enfim se rendeu à realidade e renunciou, a Fifa pode enfim passar por um processo de desintoxicação.
E a CBF?
O equivalente a Blatter, no futebol brasileiro, é a Globo.
Enquanto a Globo estiver metida no futebol brasileiro, nada vai acontecer.
O espírito da Globo é o que todos conhecemos: predador. Na relação entre a Globo e o futebol brasileiro, a Globo ganhou extraordinariamente e o futebol brasileiro se reduziu à miséria.
Alguma coisa, obviamente, não funcionou na sociedade. Quer dizer, funcionou apenas para a Globo.
A Globo tem que sair do futebol brasileiro, como Blatter saiu da Fifa.
Mas vai sair?
É difícil, dado o poder na Globo. Mas também era difícil imaginar Blatter fora da Fifa, mesmo depois da eclosão do escândalo.
Há um caminho que pode levar a uma faxina real na CBF, e ele passa por Ricardo Teixeira.
Se a PF e a justiça realmente apertarem Teixeira, os desdobramentos podem ser interessantes.
Imagine que seja oferecida a ele a delação premiada.
Que histórias ele não tem a contar dos anos, muitos anos, de parceria entre a CBF, a Globo – e a Fifa.
A Globo, nos anos de influência de Teixeira (e do antigo sogro Havelange) na Fifa, sistematicamente ganhou os direitos de transmitir a Copa para o Brasil.
Bizarrices ocorreram.
A Globo levou as Copas de 2010 e 2014 por 220 milhões de dólares, pagos à Fifa, 100 milhões pela primeira e 120 pela segunda. A Record foi preterida com uma oferta de 360 milhões de dólares.
Para a Copa de 2014, a Globo colocou no mercado oito cotas de patrocínio, cada uma delas por 180 milhões de reais.
Como o dólar estava em dois reais, isso significava 90 milhões de dólares por cota.
Isso dá um total de 720 milhões de dólares. A Globo não é de dar descontos, e então o faturamento deve ter sido aquele mesmo.
Qual o gasto para cobrir? O maior mesmo é a compra dos direitos. Sequer imagens a Globo teve que gerar, pelo contrato.
Suponhamos, com boa vontade, que a Globo tenha gastado 50 milhões de dólares para armar a cobertura da Copa.
Você gasta 120 mais 50. O total é 170. E fatura 720.
Existe negócio melhor?
É assim que os Marinhos se tornaram a família mais rica do Brasil.
Ricardo Teixeira e João Havelange tinham força, no passado, para influenciar nas decisões da Fifa.
O que a Globo não teria feito para manter a Copa em casa?
Fora o dinheiro, há um ganho imenso de audiência e de prestígio na transmissão de uma Copa, coisas que se transformam em mais negócios lucrativos.
O difícil, no Brasil como conhecemos, é acreditar que Ricardo Teixeira vai ser cobrado pela polícia e pela justiça como Marin será nos Estados Unidos.
Mas se for, e se ele falar numa delação premiada, a CBF vai ser desinfetada, como a Fifa pós-Blatter.