É simbólico que no mesmo dia que a justiça liberta Geddel, condene Lula. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 12 de julho de 2017 às 19:46
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A condenação do ex-Presidente Lula pelo juiz federal Sérgio Moro, representa aqueles eventos da história em que a injustiça se cumpre para que a humanidade tome nota de sua imperfeição.

É simbólico que no mesmo dia que a justiça liberta Geddel, condene o maior líder popular do país, é sintomático que enquanto Aécio retoma suas atividades políticas, juízes interfiram no processo eleitoral da nação, é hediondo que apenas um dia após sacrificarem toda a classe trabalhadora brasileira, sacrifiquem também o indivíduo que mais lutou em sua defesa.

Vivemos tempos estranhos que revelam muito da sociedade que nos tornamos. Ou que voltamos a nos tornar. É desolador o fato do obscurantismo nos espreitar a cada geração.

Desde a cicuta que em num entardecer Sócrates bebia, desde que num crepúsculo um justo sentia na carne o peso dos cravos, desde que em praça pública Tiradentes era enforcado e esquartejado, o poder, a intolerância e a injustiça nos condenam.

Marco Túlio Cícero, o célebre político, filósofo e orador romano uma vez disse que “um juiz iníquo é pior do que um carrasco”.

Moro, no seio de uma das mais abjetas conspirações políticas de nossa República, cumpriu o papel que lhe foi destinado pelas forças a que se deixou subjugar: o de juiz iníquo.

Lula, que viu sua mulher ser assassinada pelas mesmas pessoas que ora o condenam, sabe que a sua história não é só sua, mas de todos os grandes líderes mundiais que ousaram subverter a lógica do capitalismo.

Ombro a ombro, poderia proferir com justiça e extrema exatidão, as mesmas palavras pronunciadas por Nelson Mandela ao tribunal que o acusou de incitamento no ano de 1962. Proferiu Mandela:

Eu fui considerado, pela lei, um criminoso, não por causa do que eu tinha feito, mas pelo que eu representava, por causa do que eu pensava, e por causa da minha consciência”.

Lula, como Mandela, foi condenado por tudo o que representa, por tudo o que pensa e por toda a sua consciência. Não é Lula, o homem, que foi condenado, mas a sua ideia, a sua esperança, a sua razão de existir: a justiça social.

Por tudo isso, não seria menos justo e exato que Lula pronunciasse aos seus carrascos, a memorável frase de Giordano Bruno prestes a ser consumido pelas chamas da inquisição:

Vocês estão com mais medo da sentença que proferiram, do que eu, que por ela serei supliciado”.

A história se repete. Sérgio Moro e Lula representam dois lados que durante séculos se digladiam. Independente de tudo o que ainda estar por vir, essa mesma história, que tudo presencia, já cuidou de julgá-los.