DO PORTAL DA UFRGS
A noite foi de emoção, lágrimas e muitos aplausos. Diante de um Salão de Atos lotado, Elza Soares recebeu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul o título de Doutora Honoris Causa neste domingo, 26. A entrega marca um momento histórico para UFRGS e para a cultura brasileira, por ser a primeira vez que uma artista mulher e negra, ligada à música popular, recebe essa distinção. Elza Soares é uma das lendas da canção brasileira e uma das vozes mais eloquentes na luta contra o preconceito, a discriminação e o racismo. Para a oradora da cerimônia, Celina Alcântara, ela é “deusa, rainha e, agora, doutora”.
De acordo com o Estatuto da Universidade, esse título é outorgado a personalidades que tenham se distinguido na vida pública ou na atuação em prol do desenvolvimento da Universidade, do progresso das ciências, das letras e das artes. E Elza Soares preenche com muita competência esses quesitos: tem-se dedicado a difundir a música popular brasileira desde os anos 60. Em quase 60 anos de carreira, a compositora e cantora levou sua musicalidade e seu profissionalismo ao Brasil e ao mundo. Elza é mais que uma voz que canta. Sua voz – negra, feminina, suingada, rasgada – representa muitas outras mulheres e homens negros do país que, mesmo nascidos e vivendo com as marcas de um processo histórico de exclusão e preconceito étnico-racial, resistem, lutam, vencem em suas carreiras e carregam outros em suas conquistas.
A cerimônia foi interrompida várias vezes por aplausos e gritos de reconhecimento a Elza, que, muito emocionada ao receber o título, disse “não tenho muito o que falar porque estou chorando o tempo todo, e só não fico em pé porque a minha coluna não permite. Só sei dizer obrigada, obrigada, obrigada. Obrigada, meus amores”.
Elza novamente arrancou aplausos da plateia quando bradou: “que minha raça se sinta orgulhosa. Sabemos o que significa estar em uma universidade. Represento aqui meus antepassados escravos com muito orgulho”. Para o reitor da UFRGS, Rui Oppermann, entregar a Elza o título de Doutora Honoris Causa representa o reconhecimento da Universidade pela sua contribuição na arte e na cultura brasileira, mas é, sobretudo, “por sua posição corajosa, incisiva e intransigente na superação do racismo”.
Após a entrega da distinção, sugerida pelo Departamento de Difusão Cultural e proposta pelo Instituto de Artes, com aprovação unânime em sessão solene do Conselho Universitário da UFRGS, o compositor, ensaísta e professor José Miguel Wisnik deu sequência ao evento com uma conversa sobre o que é essencial para a vida. O diálogo trouxe uma reedição do projeto Coisas Essenciais da Vida, que em 2003 reuniu os dois artistas para falar sobre música e arte em geral. Para encerrar, dezenas de fãs aguardaram por um autógrafo da cantora em sua biografia, ‘Elza’, escrita pelo jornalista Zeca Camargo.