Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
Por Moisés Mendes
Há um detalhe visual nas festas dos negacionistas na areia da praia ou em áreas abertas e fechadas, em Capão da Canoa, Imbé, Curitiba, Santos ou Balneário Camboriú. O que se vê nas fotos é muita gente usando roupa branca.
O negacionista é um sujeito que conserva a indumentária de ano novo. O branco da virada significa esperança, pureza, paz. O branco é bíblico. Nem precisa traduzir.
Tem espiritualidade, plenitude e até o sentido da limpeza no branco do ano novo. É tudo o que o negacionista não consegue ter e, claro, nem transmitir, ou não seria negacionista.
O negacionista, que antes de ser negacionista é ou finge ser um bolsonarista (mesmo que disfarçado), é o mesmo sujeito que se apoderou das cores da bandeira e da seleção. O branco do ano novo também é deles.
O negacionista ajuda a destruir simbolismos e ilusões. As festas que promovem são de jovens de todas as classes, gente bonita, sarada. Eles conseguem convergir para o risco, a aventura da roleta russa do coronavírus, em nome da diversão.
Porque há muito tempo o jovem brasileiro não consegue se aglomerar para quase mais nada que expresse vontades coletivas fora do entretenimento.
É ruim, é uma realidade que a maioria prefere negar. É um cenário que incomoda as esquerdas, os estudantes, os professores, os pais, os adultos.
As festas do negacionismo são a farra dos vencedores. São quase junções identitárias da direita, enquanto as esquerdas sesteiam.
Os jovens estão ali pela afinidade da negação da peste. É o desprezo pela Covid-19 que fortalece o sentimento de que são imunes e eternos.
A geração da pandemia corrompe a seu modo a ideia de identitarismo. As festas clandestinas são o auge, a apoteose de contingentes conectados pela negação.
Eles se juntam para dizer que não irão morrer do que mata só os outros, apenas os outros. Essa valentia é que os identifica.
O vírus potencializou os sentimentos de fortidão de grupos conservadores que caminharam nos últimos anos para o ultraconservadorismo.
O que os une agora é o desejo de afrontar a pandemia sem o uso de escudos, de negar a vacina, de desprezar o drama dos profissionais da saúde, de ignorar que levarão para casa o bicho que pode matar pais, irmãos, avós e tios. E de vencer os que se protegem e tentam proteger os outros da ameaça da peste.
O jovem do novo reacionarismo brasileiro bebe cerveja com o vírus, de preferência vestido de branco.
E o jovem progressista não consegue reunir sua turma, porque nem as próprias ideias ele consegue reunir.