Elio Gaspari alerta para plano de prorrogar mandato de Bolsonaro e adiar eleição

Atualizado em 10 de julho de 2022 às 17:09
Presidente Jair Bolsonaro (PL)
Foto: Reprodução

Em coluna na Folha de S. Paulo, Elio Gaspari alertou sobre os riscos do adiamento das eleições e as possíveis consequências das manifestações de ódio dos aliados do atual governo: “Bolsonaro cultiva o Apocalipse”. Para o colunista, estão surgindo novas movimentações para tumultuar as eleições deste ano.

O “lance de magia negra”, como Gaspari se refere às movimentações, circula há mais de um mês com duas versões: a primeira é recente e a segunda mais velha. A versão recente teria três fases e nela milícias digitais e mobilizações semelhantes às do ano passado criariam um clima de instabilidade a partir da Semana da Pátria.

“Armado o fuzuê, vozes pretensamente pacificadoras defenderiam o adiamento das eleições, com a votação de uma emenda constitucional. Junto com essa emenda seriam prorrogados todos os mandatos, de congressistas, governadores e, é claro, do presidente da República”, escreveu.

Já a segunda versão, mais velha, também apresenta o mesmo desfecho, mas começa no dia da eleição, com ou sem tumultos populares. “O coração da manobra está em provocar um apagão no fornecimento de energia por algumas horas em duas ou três grandes cidades, atingindo-se um significativo número de eleitores. Melada a eleição, aparece a mesma turma pacificadora, marcando uma nova data. Calcula-se que isso só seria possível depois de pelo menos dois meses. Tendo ocorrido uma catástrofe dessas proporções, a totalização eletrônica estaria ferida. Nesse caso, o hiato seria maior. Assim, chega-se ao mesmo desfecho da versão anterior: prorrogam-se os mandatos”, disse.

Para Gaspari, Bolsonaro “cultiva o Apocalipse”. “Em 2019, quando o Chile foi sacudido por desordens, ele profetizou: ‘O que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil. Todos nós pagaremos um preço que levará anos para ser pago, se é que o Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês tanto defendem'”, lembrou.

“Em março de 2020, durante os meses dramáticos da pandemia, ele (Bolsonaro) foi claro: ‘O caos está aí na nossa cara’. Não estava. A coisa mais parecida com o caos ocorrida durante a pandemia foi a administração do Ministério da Saúde, com seus quatro titulares”, disse. “Um ano depois, Bolsonaro dizia que o Brasil se tornou ‘um barril de pólvora’: ‘Estamos na iminência de ter um problema sério'”, completou. O colunista ainda mencionou as manifestações do ano passado: “Veio o Sete de Setembro, caravanas de ônibus foram a Brasília e caminhoneiros furaram o bloqueio da Esplanada, anunciando que invadiriam o Supremo Tribunal Federal. Aconteceram manifestações ordeiras em diversas cidades”.

O autor aproveitou para lembrar da fatídica fala de Bolsonaro em São Paulo, acompanhada de insultos dos ministros do STF: “A partir de hoje, uma nova história começa a ser escrita aqui no Brasil”. Logo em seguida, uma intervenção do ex-presidente Michel Temer “jogou água na fervura”. “De lá para cá o ‘barril de pólvora’ ficou em paz, o caos não veio e não aconteceu um só ‘problema sério’ além da suspeição lançada sobre as urnas eletrônicas pelo presidente e pelos generais palacianos”, afirmou.

Segundo o colunista, “o sonho de um caos deliberadamente fabricado circula agora com o enfeite do adiamento das eleições” e com o ‘presente da prorrogação dos mandatos”. “Um Congresso que corre o risco de grande renovação pode gostar dessa ideia. Estima-se que metade dos deputados não voltem a Brasília. Afinal, Bolsonaro dispõe da benevolência do doutor Arthur Lira”, escreveu. Gaspari pontuou que em seus períodos democráticos, o Brasil nunca teve prorrogação de mandato presidencial.

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