Publicado originalmente no blog Tijolaço
POR FERNANDO BRITO
Os números do Datafolha sobre a opinião dos brasileiros sobre o brado histérico de Jair Bolsonaro em defesa do armamento generalizado da população são reveladores de uma verdade cruel.
Não é o povão, pobre e desvalido quem quer armas, mas os mais ricos, os empresários, os – supostamente – mais instruídos.
A “democracia” que querem defender armados de pistolas é, fica claro, a democracia do privilégio e da solução a bala dos problemas que tornam este país inseguro e amedrontado.
Sua noção do uso da força é semelhante ao do empresário de Alphaville que, depois de bater na mulher e receber a visita da polícia, gritou ao policial que não pisasse sequer na sua calçada, chamando-o de “lixo”.
Tristemente, não estava longe da verdade, e basta para constatar isso imaginar um jovem negro dizendo o mesmo à frente de sua casa humilde na favela.
As polícias brasileiras, não é de hoje, não apenas prestam-se ao papel de ser uma ferramenta de controle social e de manutenção da imensa maioria dos brasileiros em uma situação de opressão, na qual o desenvolvimento do tráfico de drogas e a sua brutalização só ajudam a legitimar.
Agora, com Bolsonaro, ainda que com algumas resistências e “caretas” da alta oficialidade, é esta polimilícia que galga o poder e põe até o Exército Brasileiro como seu caudatário.
Não é à toa que o criminalista Alberto Toron diz hoje à Folha que sente “um cheiro de milícia no ar”.
“O que eu vejo é um cheiro de golpe, cheiro de milícia no ar”, diz ele, mostrando as digitais da Lava Jato na acentuação deste processo,”porque ela representou uma desconstrução do devido processo legal. Ela forçou a legitimação de atos de repressão a pretexto de se coibir a corrupção.”
Embora dentro dos mecanismos estatais, essa é a mesma ordem “lógica” da ascensão do poder miliciano: repor a “ordem”, “a moralidade” em meio a situações ilegais e, logo a seguir, acumular tanto poder que se torna, ele próprio, a “lei e a ordem” de maneira totalitária.