Em um artigo publicado na segunda-feira (2), Gideon Rachman, editor de Assuntos Internacionais do Financial Times, chamou o bilionário Elon Musk de “míssil geopolítico desgovernado”. Segundo Rachman, as intervenções imprevisíveis de Musk, aliadas às suas vastas capacidades tecnológicas e financeiras, têm o potencial de mudar o rumo das coisas no cenário mundial:
Grandes empresas e bilionários costumam ficar longe de controvérsias políticas. Se exercem o poder, preferem fazê-lo nas sombras. Elon Musk é diferente.
Nas últimas semanas, ele manifestou seu apoio a Donald Trump e fez uma entrevista em tom amigável com o ex-presidente dos EUA no X, a plataforma de relacionamento social on-line pertencente a Musk.
Também está envolvido em uma briga pública com o Supremo Tribunal Federal do Brasil, que na semana passada suspendeu o X. (…)
Ser dono do X deu a Musk um gigantesco megafone para transmitir seus pontos de vista. No entanto, dar atenção apenas à plataforma social on-line de Musk obscurece a real extensão e a fonte de seu poder geopolítico.
É o controle da SpaceX, da Starlink e da Tesla que tem dado a Musk um papel central na guerra na Ucrânia e na crescente rivalidade entre EUA e China; assim como uma participação coadjuvante na guerra na Faixa de Gaza.
Nesses conflitos, o papel de Musk é mais ambíguo do que nas guerras culturais do Ocidente. Suas intervenções imprevisíveis — combinadas com seu imenso poder tecnológico e financeiro — fazem dele um míssil geopolítico descontrolado, cujos caprichos são capazes dar novas formas a assuntos mundiais. (…)
Membros do governo americano observam que o apoio de Musk à liberdade de expressão — e sua disposição para insultar líderes mundiais — não se aplica à China. O X está banido na China há tempos, mas Musk é meticulosamente respeitoso com Xi Jinping, o líder ditatorial da China. (…)
O governo Biden sente inquietação com muitas das atividades de Musk. Mas as empresas dele têm capacidades tecnológicas que nem o governo dos EUA tem. Para manter a Ucrânia conectada, quando Musk hesitou, o Pentágono precisou contratar a Starlink. Quando a Nasa quer transportar astronautas para a Estação Espacial Internacional ou trazê-los de volta, é a SpaceX que faz isso acontecer.
Se Musk costuma falar e agir como se fosse mais poderoso do que qualquer governo, é possível que seja assim porque, em certos aspectos, isso é verdade.
Mas os governos mantêm um poder-chave que ainda escapa a Musk: a capacidade de fazer e aplicar a lei. Tanto o confronto entre o Brasil e o X quanto a prisão de Durov na França são sinais de que a era da impunidade nas plataformas sociais on-line está chegando ao fim no mundo democrático (algo que nunca existiu no mundo autoritário). (…)
O X está repleto de teorias da conspiração — algumas delas promovidas pelo próprio Musk. Apesar de toda sua riqueza e inegável brilhantismo como engenheiro e empreendedor, Musk continuará estando sujeito à lei dos países nos quais opera.
O fato de estar percebendo isso cada vez mais pode explicar a crescente fúria de seus ataques verbais fulminante contra o Brasil, o Reino Unido, a União Europeia e o Estado da Califórnia — e contra qualquer outro que ouse ficar em seu caminho.
O X não é a fonte do poder de Musk. Mas pode ser o ponto em que seu poder encontra limites.