Em seu culto comemorativo de aniversário, o Pastor Silas Malafaia encerrou o evento com uma citação do livro Juízes, 10:3: “Depois dele veio Jair, de Gilead, que liderou Israel durante vinte e dois anos”.
A citação é sob medida para o momento eleitoral, uma vez que tem o nome e o número do candidato defendido pelo aniversariante.
A citação, contudo, tem um terceiro elemento que não passa despercebido por quem é minimamente conectado às redes e conhece, ainda que por alto, do universo das recentes distopias ficcionais: Gileade, lugar de onde veio o Jair bíblico, é o nome do lugar onde se passa o Conto da Aia.
O livro, de Margaret Atwood, é um romance que se passa num futuro muito próximo e tem como cenário uma república onde não existem mais jornais, revistas, livros nem filmes, as universidades foram extintas e também já não há advogados, porque ninguém tem direito a defesa.
O “Evangelistão” pretendido por Silas Malafaia e seus pares no mundo gospel é um desejo real, declarado e público: por situações semelhantes, o mundo ocidental repudia os grupos religiosos islâmicos.
Qualquer semelhança com um governo que cerceia as informações por meio de decretos de sigilo de 100 anos, desidrata a educação pública e já tentou, sem sucesso, aprovar leis como a do excludente de ilicitude, que permitiria a policiais matar primeiro, escudados sob o manto da “violenta emoção”, não é mera coincidência.