Em áudio vazado, Chico Pinheiro critica Moro, diz que os “coxinhas estão perdidos” e deseja “paz e sabedoria” a Lula

Atualizado em 10 de abril de 2018 às 6:30

O jornalista e apresentador da Globo Chico Pinheiro gravou um desabafo sobre a prisão de Lula, com críticas a Sergio Moro, e a quem considera que o ex-presidente e o campo progressista saem derrotados do episódio.

Disse também, aparentemente gravando o áudio enquanto via na TV uma entrada ao vivo da jornalista Cristiana Lobo, da Globonews, canal de notícias fechado do grupo empresarial em que ele trabalha:

“Olha aqui a legenda da Globonews agora: ‘sem Lula, PT precisa traçar novas estratégias’. Ora, quem tem que traçar novas estratégias agora são eles, vão fazer o quê agora?”

O comentário foi interpretado como uma crítica ao canal, mas pode ser uma crítica a quem defende novas estratégias para o PT, notícia que estava sendo comentada pela Globonews.

Chico Pinheiro encerra com um comentário sobre a apresentação que fez, no Jornal Nacional da véspera, da notícia da prisão de Lula, em que, nitidamente, se emocionou, com os olhos lacrimejantes.

“Um beijo no coração de vocês que me representaram quando eu tinha que apresentar aquele jornal de ontem. Mas está tudo bem. A história é um carro alegre, cheia de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue”, disse.

O áudio foi gravado para um grupo fechado de WhatsApp, do qual participam dezenas de pessoas, entre intelectuais, jornalistas, artistas e pessoas ligadas a partidos políticos — não só do PT.

Sem autorização de Chico Pinheiro, o áudio começou a ser divulgado e já foi parar no YouTube e no Vimeo, com imagens que reforçam a dramaticidade do desabafo.

O vídeo foi retirado do ar por causa de uma reivindicação de direitos autorais da Globo.

Quem conhece Chico Pinheiro não se surpreendeu com o áudio. Ele é, de fato, progressista, com uma sensibilidade social na mesma linha do pai, Antônio Pinheiro, que foi vereador em Belo Horizonte pelo PSDB (quando no partido ainda havia quadros de esquerda) e PSB.

Antônio Pinheiro destinava seu salário de vereador para obras sociais, que fazia muito antes de entrar na política, graças à militância na Igreja Católica.

Frei Betto escreveu artigo, publicado em O Estado de S. Paulo, em que dá testemunho sobre a atuação de Antônio Pinheiro:

“Ensina a teu filho que neste país há políticos íntegros como ANTÔNIO PINHEIRO, pai do jornalista Chico Pinheiro, que revelou na mídia seu contracheque de parlamentar e devolveu aos cofres públicos jetons de procedência duvidosa”, escreveu.

A preocupação dos amigos de Chico Pinheiro, legítima, é a de que ele possa ser prejudicado por seu empregador, o Grupo Globo, pela sinceridade de suas palavras. É possível, mas é preciso levar em consideração que a emissora da família Marinho tem uma espécie de cota para jornalistas e artistas progressistas.

Neste grupo, além de Chico Pinheiro, se enquadram Caco Barcellos e José de Abreu, além de outros menos famosos. Chico Pinheiro, num ambiente privado, exerceu seu direito de expressão e, num país civilizado, é um dos bens mais preciosos a serem preservados.

Abaixo, os cinco arquivos de áudio condensados:

https://www.youtube.com/watch?v=o0pJ3HzkBWA