Por Gilberto Maringoni
É para lá de injusto o confinamento político que está sendo imposto do ex-ministro Guido Mantega por parte da mídia e dessa instância etérea chamada “mercado”. As acusações de que seria ele o grande responsável pelo desastre do governo Dilma Rousseff não param em pé, bem como ver problemas em sua demanda pelo adiamento da eleição para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), realizada há poucos dias. A pesada carga de impropérios disparada por esses setores contra um profissional correto o fez pedir desligamento da equipe de transição.
Mantega, acadêmico respeitável, foi ministro da Economia entre 27 de março de 2006 e 1º de janeiro de 2015, o mais longevo da República. Assumiu a função após a gestão ultraliberal comandada pela trinca Antônio Palocci, José Dirceu e Henrique Meirelles e foi defenestrado de forma humilhante pela ex-presidenta Dilma Rousseff, que queria “ideias novas” na gestão econômica. As ideias novas, comandadas por ela e seu auxiliar Joaquim Levy, conduziram o país a uma queda de 8% do PIB e fizeram os índices de desemprego a dobrarem no intervalo de 15 meses, entre 2015-16.
Guido Mantega comandou a área num dos períodos mais difíceis dos últimos quarenta anos, em meio à crise de 2008. De forma ousada, realizou uma política fiscal expansiva – a “gastança” brandida por seus detratores – o que impediu o Brasil afundar nas turbulências. Realizou ações anticíclicas, mesmo sendo sabotado pelas seguidas altas de juros determinadas por Henrique Meirelles, em meio ao desastre representado pela quebra do Lehman Brothers.
O ex-ministro foi o principal responsável, juntamente com o presidente Lula, pelo ativismo estatal de 2006-10, que possibilitou um breve ensaio desenvolvimentista naqueles anos. A memória de “bons tempos” que os petistas gostam de alardear refere-se justamente a esse período.
Mantega meteu-se em camisa de onze varas ao declarar, há poucas semanas em entrevista à Globo News, que as eleições do BID deveriam ser adiadas, diante da manobra orquestrada por Bolsonaro e Paulo Guedes – em fim de governo – para levar o financista Ilan Goldfajn à presidência do órgão. A postulação era de inteiro agrado da Casa Branca e inviabilizou a possibilidade do Brasil apresentar um nome de unidade latinoamericana e com tradição na agenda central de um banco que se pauta pela integração continental e pelo desenvolvimento. A direita emplacou um fiscalista radical.
O ex-ministro já havia anunciado sua recusa em voltar ao governo. Espera-se que a nova administração encontre um substituto a altura, que tenha em mente o desenvolvimento, a reindustrialização e que não tenha preconceitos contra a ação progressista do Estado na economia.