Em reunião do Brics, Lula condena guerra de Israel: “Fruto da falta de lar seguro para palestinos”

Atualizado em 21 de novembro de 2023 às 11:50
Lula discursa durante convenção dos BRICS em Joanesburgo, na África do Sul. Foto: Gianluigi Guercia/AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta terça-feira (21), durante encontro dos Brics, que o conflito Israel e Hamas é resultado de décadas de injustiça e frustração decorrentes da ausência de um ambiente seguro para os palestinos.

Em consonância com a proposta brasileira para o fim do conflito, o chefe do Executivo enfatizou que as soluções não devem ser moldadas exclusivamente pela força militar.

“Não podemos esquecer que a guerra atual também decorre de décadas de frustração e injustiça, representada pela ausência de um lar seguro para o povo palestino”, disse Lula durante a reunião de emergência dos países do bloco Brics, focada explicitamente na questão do conflito.

O petista também destacou a necessidade de o grupo buscar estratégias para impedir a propagação do conflito para as nações vizinhas. Além disso, ele reiterou críticas ao Conselho de Segurança da ONU, que vetou a proposta brasileira para a paz.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foto: reprodução

Realizada por videoconferência, essa reunião representa o primeiro encontro dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) com os seis novos integrantes, participando como observadores. Essas nações se juntarão oficialmente ao grupo a partir do próximo ano.

Confira na íntegra o discurso de Lula: 

Agradeço ao presidente Ramaphosa pela iniciativa de convocar esta reunião extraordinária para tratar da situação emergencial em Gaza.

Quero saudar a presença dos representantes dos países convidados a integrar o BRICS: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã.

Desde o início do atual conflito entre Israel e Palestina, tive a oportunidade de conversar bilateralmente com praticamente todos os líderes aqui reunidos.

O Brasil condenou de maneira veemente os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro contra o povo israelense. Três brasileiros foram vítimas desses ataques.

Em várias ocasiões, reiteramos o chamado pela liberação imediata e incondicional de todos os reféns.

No entanto, tais atos bárbaros não justificam o uso de força indiscriminada e desproporcional contra civis.

Estamos diante de uma catástrofe humanitária.

Os inocentes pagam o preço pela insanidade da guerra, sobretudo mulheres, crianças e idosos.

O elevado números de mortos — mais de 12.000 pessoas, sendo 5.000 crianças — nos causa grande consternação.

Há ainda 29.000 feridos e 3.750 desaparecidos, dos quais muitos são crianças.

Como bem disse o Secretário-Geral da ONU, Gaza está se tornando um cemitério de crianças.

Além disso, ao menos 1,6 milhão de pessoas — cerca de 70 % da população de Gaza — tiveram de abandonar suas casas, sem perspectiva de retorno.

Também nos causa perplexidade que mais de uma centena de funcionários da ONU já perderam suas vidas.

Ao presidir o Conselho de Segurança das Nações Unidas no mês de outubro, o Brasil não poupou esforços em favor do tratamento da emergência humanitária, da contenção da atual escalada e da retomada de uma solução duradoura para o conflito.

Propusemos uma Resolução que contou com o apoio da maioria dos membros, mas que infelizmente foi objeto de veto de um dos membros permanentes.

A paralisia do Conselho é mais uma demonstração da urgência da sua reforma.

Só em 15 de novembro último, mais de 40 dias depois do início dos conflitos, o Conselho de Segurança finalmente aprovou uma Resolução que foca em um dos objetivos mais essenciais de toda ação humanitária: a proteção de crianças.

Neste momento, o desafio é fazer com que a trégua humanitária determinada pela Resolução seja implementada imediatamente.

Novamente, a credibilidade das Nações Unidas está em jogo.

Caros colegas,

Dois outros temas devem merecer nossa atenção.

O primeiro é que devemos atuar para evitar que a guerra se alastre para os países vizinhos.

É valiosa e imprescindível a contribuição do BRICS, em sua nova configuração, junto a todos os atores em favor da autocontenção e da des-escalada.

O Brasil não acredita que a paz seja criada apenas pela força das armas.

Temos longa experiência nacional que reforça nossa fé na paz criada por uma justa negociação diplomática.

Em segundo lugar, não podemos esquecer que a guerra atual também decorre de décadas de frustração e injustiça, representada pela ausência de um lar seguro para o povo palestino.

É fundamental acompanhar com atenção a situação na Cisjordânia, onde os assentamentos ilegais israelenses continuam a ameaçar a viabilidade de um Estado palestino.

O reconhecimento de um Estado palestino viável, vivendo lado a lado com Israel, com fronteiras seguras e mutuamente reconhecidas, é a única solução possível.

Precisamos retomar com a maior brevidade possível o processo de paz entre Israel e Palestina.

A Iniciativa Árabe para a Paz, apresentada pela Arábia Saudita e adotada pela Liga dos Estados Árabes em 2002, nos parece um excelente ponto de partida.

Estou convencido do potencial deste grupo para mobilizar as forças políticas e diplomáticas em favor da resolução pacífica de controvérsias.

O Brasil seguirá pronto a apoiar todas as iniciativas que levem a uma solução política para esse conflito.

Gostaria de terminar a minha fala com um agradecimento especial ao presidente Al-Sisi e outros líderes pelo apoio à repatriação de 32 brasileiros e familiares de brasileiros que nos solicitaram ajuda para sair da Faixa de Gaza.

Muito obrigado.

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