As publicações sobre os desvios da Lava Jato ganharam uma velocidade tão grande que os escândalos se sucedem sem que se possa extrair de cada um deles melhor interpretação.
Por exemplo, na sexta-feira pela manhã, se ficou sabendo que Deltan Dallagnol realizou palestra para a Neoway, depois que a empresa foi citada por corrupção em depoimento de delação.
À noite, outra informação arruinaria ainda mais a credibilidade de Deltan Dallagol, ao se tomar conhecimento de que ele havia participado de um encontro sigiloso com presidentes e tesoureiros dos maiores bancos com sede no Brasil.
A Lava Jato apresentou como indício de corrupção contra o ex-ministro José Dirceu um contrato sigiloso de consultoria que ele teve com a Camargo Corrêa.
Qual a diferença entre o encontro sigiloso de Dallagnol e a consultoria sigilosa de José Dirceu à empresa?
O caso de Dallagnol é mais grave porque, quando participou do encontro, ele era (e é) agente público no exercício de suas atividades.
Já Dirceu não era mais servidor público quando fez o contrato sigiloso de consultoria com a empresa.
Mas, por ora, mantenha-se o foco na Neoway, a empresa que pagou R$ 33 mil por uma palestra de Dallagnol.
O procurador disse que, como estava participando de várias investigações, não tinha condições de se lembrar de detalhes de cada uma delas.
Portanto, de acordo com sua explicação, não sabia que a Neoway tinha sido citada por corrupção na Lava Jato.
Também não há informações de que tenha sido investigada.
Tudo bem: acredite-se em Dallagnol.
Mas ele poderia ter olhado o site da empresa — uma simples passada de olho — e, nesse caso, teria se convencido de que não era adequado que fosse contratado como palestrante da Neoway.
A empresa atua no ramo de petróleo e de gás, algo de que também a Lava Jato se ocupa, como investigadora da Petrobras.
O site informa que um dos clientes da Neoway é a petroquímica Brasken, do Grupo Norberto Odebrecht, que a Lava Jato investiga desde 2014.
Deltan Dallagnol fez a palestra porque não sabia do envolvimento da Neoway no mercado que a Lava Jato investigava?
Ou foi exatamente por isso que acabou contratado?
Nos critérios elásticos de ética que os procuradores da Lava Jato parecem obedecer, tudo é possível.
Aguardem-se os próximos capítulos.