Marcelo Kayath escancarou que um grupo de empresários defende a ditadura militar no Brasil, porque o “pessoal do mercado é impaciente com o processo político”. Em entrevista ao Valor Econômico, que foi publicada nesta quarta-feira (29), o executivo explicou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) retirou a direita do armário e fez com que saíssem “também os golpistas”.
Kayath tem participado de jantares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com investidores desde o início do ano. Ele confessou, no bate-papo, que recebeu telefonemas de colegas indignados com o diálogo que vem tendo com o petista. Porém, deixou claro que é preciso conversar com quem vai ficar em primeiro ou em segundo lugar.
“Faz parte do meu trabalho como investidor e como gestor de fundos e de dinheiro de terceiros entender o cenário. Não vejo viabilidade na terceira via. Concluí que deveria conversar com quem vai ganhar ou ficar em segundo”, comentou, criticando colegas que não possuem o mesmo pensamento.
“Tem muito mais gente de direita e de centro no mercado do que de esquerda. Há preconceito em relação ao PT e a Lula. E também um ranço em relação aos governos Dilma I e II e a Lava-jato”, confessou.
Mas a declaração mais grave está em torno do apoio de um grupo de empresários para que ocorra uma ditadura no Brasil, porque enxerga como um “mal necessário para mudar o país”.
“Infelizmente vejo muita gente boa de mercado e muitos empresários grandes admitindo, à boca pequena, a possibilidade de conviver com uma ditadura como algo até positivo. Muita gente diz que talvez seja necessário o Brasil passar por um regime de exceção para consertar o país” relatou Kayath.
Na avaliação dele, a direita saiu do armário com a chegada do presidente Bolsonaro. “Minha geração lutou pelas diretas. Era vergonhoso dizer que era de direita. Não se arrumava nem namorada. Você era tachado de nazista e fascista. Isso está errado”, destacou, mas pontuou: “Junto com a direita saíram também os golpistas.
“O pessoal do mercado é impaciente com o processo político. Quem está acostumado a comprar e vender enquanto o mercado abre e fecha tende a achar que os problemas do Brasil também podem ser resolvidos num curto espaço de tempo. E não é assim. A política impõe negociação. A ditadura espanhola começou quando a esquerda lá ganhou a eleição com 36% dos votos. Aí veio Franco, por 40 anos perseguindo, matando e exilando a esquerda. Na primeira eleição depois da ditadura a esquerda teve 35%. Quem imaginava resolver o problema eliminando a esquerda quebrou a cara”, completou.
Mas ele deixou claro que não concorda com um golpe, defendendo a democracia. “É um imenso engano. É o capitalismo que traz liberdade econômica e meritocracia. E não tem um ou outro com ditadura. Se resolvesse, a Espanha não teria ficado pra trás com [Francisco] Franco”, concluiu.
Aos 58 anos, Marcelo é violonista premiado internacionalmente e foi presidente do Crédit Suisse para o Brasil. Com amplo espaço no mundo dos negócios, tornou-se sócio-fundador da QMS Capital, conquistando quase R$ 1 bilhão durante sua gestão.