Encontro da extrema direita em SC é uma afronta ao Supremo. Por Moisés Mendes

Atualizado em 6 de julho de 2024 às 21:20
Jair Bolsonaro. Foto: Divulgação

 

O fortalecimento mundial da marca do bolsonarismo é só um dos objetivos da aglomeração do fim de semana em Santa Catarina. Essa é a jogada externa, com a ajuda de Javier Milei e outros líderes da região.

A missão interna, enquanto tentam manter viva a ideia da anistia a Bolsonaro e seus parceiros de golpe, é a de afrontar o sistema de Justiça. A Conferência Conservadora em Balneário Camboriú manda o seguinte recado: vocês pegam manés, Zé Trovão e Sergio Reis, mas os manezões estão escapando.

Santa Catarina é, por ostentação, o Estado mais extremista do país. Mas é mais do que isso. É o onde melhor se combinam o poder político e o poder econômico no ativismo bolsonarista.

Não há em São Paulo ou no Rio e em nenhum outro Estado, por excesso de pudor e certa covardia, uma militância explícita da elite econômica pró-fascismo como existe em Santa Catarina. E o verbo aqui não é conjugado no passado. Não é um ativismo que existiu durante o governo de Bolsonaro. Ainda existe.

O evento com Bolsonaro, Tarcísio e Milei é patrocinado por entidades e grupos das mais variadas áreas da economia, e não só do agro pop. Alguns agem descaradamente, outros estão encobertos ou estrategicamente distanciados porque ainda enfrentam investigações como golpistas. Há muito fascista na moita em Santa Catarina.

O triângulo Balneário Camboriú, Brusque e Itajaí e seu entorno reúnem a maior concentração de mobilizadores bolsonaristas por metro quadrado do Brasil. Itajaí teve, ao redor da Capitania dos Portos, o maior acampamento golpista de todo o Brasil depois da eleição de Lula, chegando a reunir mais de 5 mil pessoas.

Em Porto Belo, ali perto, o ministro Luis Roberto Barroso e a família foram corridos da cidade pelo cerco de uma turba, às 4h da madrugada do dia 4 de novembro do ano passado, como se participassem de um faroeste.

Luis Roberto Barroso. Foto: Divulgação

Em nenhum outro Estado o bloqueio de estradas, para tentar impedir a posse de Lula, foi tão intenso. Só ali grandes empresários fizeram discursos públicos, para claques reunidas em restaurantes, pedindo que os patriotas mantivessem os bloqueios para impedir a volta do comunismo.

O evento da extrema direita acontece no Estado em que mais se multiplicam as células nazistas. Um Estado estigmatizado pelo avanço furioso e destemido da extrema direita.

Um estigma construído por eles mesmos, como acontece no evento em Balneário, como forma de imposição do marketing de ideias e ações extremistas. A extrema direita catarinense exibe seus ódios como modelo para o Brasil.

Nenhum outro Estado reuniria centenas de pessoas dispostas a pagar R$ 5 mil para jantar com Bolsonaro no sábado. Porque o poder econômico do Sul, e não só de Santa Catarina, aposta que Bolsonaro ainda é a força inspiradora para a volta dessa turma ao poder.

Todos os envolvidos no evento, mostrando ou não a cara, estão dizendo a Alexandre de Moraes e ao Ministério Público que um encontro com essa grandiosidade só é possível porque eles continuam a desafiar, com uma base política ainda forte, todo o sistema de Justiça.

O encontro em Santa Catarina tem a função do acinte, para proteger politicamente quem ainda está impune, num reduto de grandes empresários sob investigação por envolvimento com o golpe.

É simples assim. Os catarinenses e seus parceiros sulistas informam ao Supremo que, quanto mais o tempo passa, mais eles se rearticulam. Para advertir que continuarão inalcançáveis e prontos para voltar a fazer o que fizeram até 2022. A Conferência Conservadora de Balneário Camboriú é a copa do mundo da afronta bolsonarista.

Originalmente publicado no Blog do Moisés Mendes
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