Enquanto Dallagnol desenhava powerpoints pelo “fim da corrupção”, Kassab barbarizava com Temer. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 19 de dezembro de 2018 às 11:30
Kassab

A Polícia Federal amanheceu o dia em um dos imóveis de Gilberto Kassab, atual ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Alvo de um mandado de busca e apreensão solicitado pela Procuradoria Geral da República e autorizado pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, Kassab está sendo acusado de ter recebido em propina a bagatela de R$ 52 milhões da JBS entre os anos de 2010 e 2016.

Em outros tempos a cifra escandalizaria até o mais apático dos desinteressados na corrupção brasileira, mas, incômoda verdade, desde que Dilma Rousseff foi deposta da presidência da República, o noticiário jornalístico do país não faz outra coisa a não ser divulgar as evidências da rapina provocada pelos outrora defensores da moralidade pública

Como não lembrar da performance física do assessor direto de Michel Temer, Rocha Loures, quando da sua corrida épica pelas ruas de São Paulo carregando uma mala recheada com R$ 500 mil?

Valores pesados, dinheiro de pinga se comparado com os R$ 51 milhões armazenados em outras malas encontradas no “bunker” de Geddel Vieira Lima. Para estes milhões, aliás, custaram um trabalho de 14 horas só para que tudo fosse contado.

Nessa progressão geométrica, Aécio Neves, o campeão absoluto em inquéritos no STF, ocupa lugar de destaque. Novamente investigado, a pilhagem da vez diz respeito ao recebimento de R$ 110 milhões da mesma JBS. Para usarmos um termo em moda, o “garoto” é um prodígio.

Como se vê, não é pequena a lista dos impostores que até pouco tempo trafegavam livremente em eventos sociais ladeados pelo alto escalão da Operação Lava Jato.

Até por isso mesmo, a grande questão que se levanta diante evidências tão robustas envolvendo somas estratosféricas de valores arrecadados nos mais diversos ilícitos, é: como Deltan Dallagnol não percebeu absolutamente nada do que acontecia sob as róseas maçãs de seu rosto?

Obviamente, trilho aqui o caminho mais honrado – ou menos desonroso – para o nosso jovem aspirante a herói nacional.

Nesses termos, é no mínimo vergonhoso que uma autoridade pública de tamanha importância para a justiça tenha conseguido chegar a um arquétipo de corrupção em que o líder supremo do “maior esquema de corrupção da história do Brasil” tenha sido o cidadão acusado de ter recebido um tríplex cafona numa praia pequeno-burguesa e uma reforma chinfrim em um sítio que sequer é possível afirmar ser seu.

Não restam dúvidas que Dallagnol, com toda a boa vontade e na melhor das hipóteses, é um inapto de proporções faraônicas.

Foram em boa medida os seus erros, as suas falhas e a sua obsessão em prender um único investigado, um dos maiores responsáveis pela continuidade livre e desenfreada dos esquemas espúrios que julgava investigar em pleno desenrolar da operação.

Enquanto estava ocupado demais desenhando um PowerPoint em que Lula resplandecia no centro de toda a “operação criminosa”, as verdadeiras ratazanas dessa República se refestelavam às suas custas.

Não por acaso, nenhum dos exemplos acima mencionados foi descoberto a partir de sua atuação direta. Em outras palavras, sua participação serviu muito mais para ocultar do que revelar os grandes tubarões desse mar de lama.

Pelo seu estrondoso fracasso, sendo ele involuntário ou proposital, a mesma moralidade pública tantas vezes defendida de forma hipócrita nesse país, mandaria que o Estado expulsasse o excelentíssimo procurador de seus quadros.

Para o bem do serviço público, de todas as medidas adotadas até agora no “combate à corrupção”, essa seria incontestavelmente a mais fácil, econômica e efetiva.