Enquanto o couro come, Kassab se mexe com um pé no governo e outro na oposição . Por José Cássio

Atualizado em 7 de março de 2016 às 8:52
Eles
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Enquanto o couro come em cadeia nacional com a perseguição a Lula e a ameaça dos movimentos sociais irem às ruas defender o ex-presidente, o ministro das Cidades de Dilma, Gilberto Kassab, aguarda o desfecho das prévias do PSDB em São Paulo. Como os pés em duas canoas: uma no governo, outra na oposição.

Inimigo declarado do governador Geraldo Alckmin, que derrotou em 2008, Kassab, que é aliado do PT no plano nacional, reforçou nesta semana o convite para Andrea Matarazzo ingressar no PSD e disputar pelo partido a eleição para prefeito da capital.

Matarazzo disputa com João Doria o segundo turno das previas no domingo, 20.

A chance de vencer nas urnas é pequena – perdeu o primeiro turno e agora vê o deputado federal Bruno Covas, que ajudou Ricardo Tripoli, conversar com o governador e sinalizar que deve apoiar o publicitário.

Por mais que se diga indignado, Matarazzo sabe também que é difícil impugnar a candidatura de Doria a partir da representação impetrada no diretório municipal por Alberto Goldman e José Anibal – segundo eles, Doria cometeu abuso de poder econômico, comprando apoios e oferecendo transporte aos filiados, e infringiu a Lei Cidade Limpa e a própria regra eleitoral ao colocar cavaletes com seu nome, número e foto nos 58 locais de votação.

Dois fatos sinalizam que a representação deve dar em nada: a relatoria acabou nas mãos de um simpatizante de Doria e o perfil do presidente do diretório, vereador Mário Covas Neto, um conciliador por excelência.

Matarazzo ainda tenta, sem conseguir, tirar um documento de apoio dos vereadores do PSDB à sua pré-candidatura. Mas como todos são candidatos à reeleição, preferem não se comprometer, temendo ficar mal com o governador.

Se seguir para o PSD, Matarazzo leva com ele alguns parlamentares. Adolfo Quintas é praticamente certo. Podem acompanhá-lo também Patrícia Bezerra, Eduardo Tuma e Aurélio Nomura.

Kassab aguarda para decidir o que fazer com o seu PSD por entender que Alckmin está implodindo o PSDB. Isolou-se do grupo serrista, com quem o presidente nacional do PSD tem bom trânsito, e arrisca a própria sorte numa jornada sinistra rumo à Presidência da República.

O ex-prefeito entende que o jogo da Presidência está aberto – e que Serra não vai abrir mão da disputa, mesmo que para isso tenha de disputar pelo PMDB.

Não acredita que Alckmin, sozinho à frente do PSDB ou em outro partido, o PSB, por exemplo, tenha envergadura política e até intelectual para enfrentar as forças do PSDB, que ele acaba de se afastar, e ainda o profissionalismo do PMDB.

O aceno para Andrea é sinal de que, no seu tabuleiro, mexe os pauzinhos para ter o grupo serrista por perto.

Dilma? Bem, Dilma é um mero detalhe para alguém que fundou um partido e logo no primeiro dia afirmou que “não era de direita, nem de esquerda, nem de centro”.

O PSD é a favor dele próprio, Gilberto Kassab. Que venha Andrea Matarazzo.