Enquanto vira pardo para corrigir “dívida histórica”, Melo derruba em 78% recursos de políticas para negros

Atualizado em 21 de agosto de 2024 às 8:43
O prefeito neopardo de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB)

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), virou notícia no início desta semana por ter mudado de cor nesta eleição. Em 2020, ele se declarou branco à Justiça Eleitoral brasileira (mesma cor que declarou em 2018, e em 2016). Já neste ano, virou pardo. Veja abaixo.

Em 2020 (e em 2018 e em 2016), Sebastião Melo era branco (crédito: TSE)

 

Atualmente, Sebastião Melo é pardo (crédito: TSE)

Questionado sobre o assunto pela imprensa, o prefeito disse que “fez uma correção histórica”, seja lá o que isso quer dizer, e virou motivo de piada em Porto Alegre, como se pode ver neste vídeo.

A designação “pardo” corresponde às pessoas que possuem pais ou antepassados de diferentes etnias. Abaixo, a imagem da mãe de Sebastião Melo, dona Maria, branca de olhos verdes.

A mãe de Sebastião Melo (crédito: arquivo pessoal)

Não há fotos públicas do pai de Sebastião Melo, o agricultor goiano Lázaro Melo. Se o prefeito se dispusse a publicar alguma imagem de seu genitor, saberia-se se ele possui ou não alguma ascendência negra.

Já se o prefeito não mostrar quem é seu pai e qual é sua cor, ficará difícil entender o que quer dizer a tal correção histórica. O que sabe, concretamente, é que Melo não tem qualquer compromisso com reparações históricas com a população negra e parda brasileira.

Tal fato se evidencia pelos recursos que o prefeito (agora) pardo destina a políticas públicas voltadas ao “povo negro” na Lei Orçamentária de Porto Alegre de 2024. Ele destinou R$ 146 mil reais à rubrica, como se vê abaixo.

crédito: Prefeitura de Porto Alegre

O valor é 78% inferior ao montante destinado às mesmas políticas em 2023, de R$ 686 mil, como se observa na Lei Orçamentária de 2023, conforme se vê no trecho abaixo.

crédito: Prefeitura de Porto Alegre

A questão se torna ainda mais intrigante quando se nota que os parcos R$ 146 mil destinados a políticas de correção histórica que o prefeito (agora) pardo destinou ao povo negro só foi incluído no orçamento da cidade em 2024 graças aos vereadores. No PLOA (projeto de lei enviado por Melo à Câmara), o valor era ainda menor: R$ 126 mil.

Assim, o prefeito achou por bem fazer correção histórica apenas em sua autodeclaração, o que, pela atual lei eleitoral brasileira, lhe concedeu vantagens individuais, a ele e a seu partido, que com isso receberam mais verbas públicas eleitorais e têm garantido mais tempo de propaganda de TV.

No que se refere a políticas de correção histórica com real impacto para a população negra de Porto Alegre, ah, neste caso o prefeito Melo continua mais branco e bolsonarista do que nunca.