Especialistas em segurança de voo consideram a formação de gelo sobre as asas como uma das possíveis causas a serem investigadas na queda do avião em Vinhedos, no interior de São Paulo, na tarde desta sexta-feira (9).
Apesar disso, os especialistas concordam que não há um fator único que possa explicar o acidente e que ainda é prematuro tirar conclusões baseadas apenas em vídeos e informações divulgadas.
Relatos iniciais sobre condições severas para a formação de gelo na rota do voo começaram a circular nas redes sociais após o acidente. Em mensagens de áudios, pilotos relataram que há muito gelo.
“Muito gelo hoje, difícil. Nunca vi isso. Inclusive fomos alertados pela academia. Formação severa de gelo, estava mesmo com muito gelo”, contou um piloto.
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Aeronave perdeu sustentação e despencou em área de condomínio em Vinhedo (SP). Pilotos relatam dia com muito gelo. Não houve sobreviventes
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— Metrópoles (@Metropoles) August 9, 2024
Apesar dessas condições, elas não necessariamente impedem a operação das aeronaves. O avião ATR-72-500, que opera em altitudes onde a formação de gelo é comum, possui equipamentos projetados para prevenir que o gelo afete a capacidade de sustentação.
Em entrevista à GloboNews, o especialista em segurança aérea e mecânico de aviação Lito Souza destacou que a aeronave está equipada para lidar com o acúmulo de gelo.
Segundo Souza, se houvesse a formação de gelo nas asas devido a uma falha na operação ou no funcionamento, os cristais de gelo se acumulariam sobre as asas, afetando a capacidade de voo.
“O ar começa a turbilhonar e o coeficiente de sustentação da asa diminui. Esse é o perigo”, explicou.
O engenheiro aeronáutico e professor de transporte aéreo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Geraldo Portela, observou que ainda é cedo para identificar a causa exata do acidente. No entanto, ele confirmou que o acúmulo de gelo pode comprometer as características aerodinâmicas da asa e, em baixas velocidades, pode levar à queda da aeronave.
“A asa tem um perfil aerodinâmico e o acúmulo de gelo lá no ponto de ataque, geralmente, na frente da asa pode fazer com que esse avião perca as características aerodinâmicas que ele tem e torná-lo mais difícil de voar. Portanto, se ele estiver em velocidade mais baixa, pode ser que ele caia. Agora, o que que levou isso daqui?”, disse Portela.
De acordo com o especialista em acidentes aéreos Roberto Peterka, o avião entrou em estol, uma condição em que a aeronave perde total sustentação e cai na vertical.
“Alguma coisa deve ter acontecido e provável é a formação de gelo que acumula nas asas. E aí, perde o perfil aerodinâmico de sustentação e cai. Ele teria que ter mais altura para conseguir recuperar a aerodinâmica da asa para conseguir continuar no seu voo. Ele tem todos os equipamentos para isso. Isso tudo a investigação vai ver, esses alertas, velocidade que estava. A troca de informações na cabine. Tudo isso vai juntar para identificar quais foram os fatores que provocaram o acidente”, afirmou.