A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta terça-feira (12) a Operação Hinsberg, que visa investigar um grupo suspeito de desviar produtos químicos para a produção de cocaína e crack.
A operação, conduzida em conjunto com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Receita Federal, tem como um dos 16 alvos o empresário Renato Cariani.
A PF identificou 60 transações fraudulentas realizadas pelas empresas investigadas ao longo de seis anos. Cerca de 12 toneladas de insumos, como fenacetina e manitol, teriam sido desviadas para células de organizações criminosas em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. A operação resultou no cumprimento de 18 mandados de busca nesses estados.
“Nós sabemos que esse produto que é desviado e essa droga que é introduzida já com o batismo, digamos assim, é feita por meio de organizações criminosas”, afirmou o delegado Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Superintendência Regional da PF em São Paulo.
Segundo a PF, a relação dos desvios com o tráfico de drogas está clara pelo que já foi apurado. “O produto investigado foi efetivamente desviado e efetivamente esses produtos químicos de alguma forma foram usados para adulteração e ampliação da droga, que entrou em circulação em território nacional”, apontou.
Galli reforçou que a quantidade de droga que pode ter sido produzida depende do nível de pureza do “produto final”. “Pelo que a gente tem da perícia, os produtos (cocaína) têm mais ou menos entre 20% e 30% de pureza. O resto são produtos químicos que aumentam o volume”, disse.
Dentre esses produtos, incluem-se os insumos desviados no esquema, como fenacetina, lidocaína e manitol. Embora considerados legais em alguns mercados, esses compostos são frequentemente usados para aumentar o volume de drogas como a cocaína, impulsionando os lucros das organizações criminosas.
“Essas substâncias são utilizadas para refino e adulteração de drogas (…) A Polícia Federal tem um catálogo, faz o controle administrativo de diversos produtos químicos”, afirmou o delegado da Polícia Federal Vitor Vivaldi, que chefiou as investigações do caso.
O esquema envolvia desvios de produtos químicos utilizando o nome de grandes multinacionais para emissão de notas fiscais falsas. Vivaldi destacou que os produtos desviados são comumente utilizados para aumentar o volume de drogas, como cocaína, impulsionando os lucros das organizações criminosas.
“Começou através de denúncias de grandes multinacionais, cujos nomes estavam sendo utilizados para a emissão de notas fiscais de produtos controlados utilizados para refino e ampliação de crack e cocaína”, relatou.
A operação também revelou a participação de terceiros. Os desvios ocorriam após o suposto depósito, sendo alguns produtos provenientes das próprias empresas investigadas e outros de fornecedores externos.
“São pessoas utilizadas para fins de depósito em espécie, utilizando dados de multinacionais, como se fossem funcionárias dessas multinacionais, tendo como destinatário a empresa investigada pelo desvio”, disse.
A ideia dos suspeitos, segundo Vivaldi, seria não levantar suspeitas da Polícia Federal e de outros órgãos de controle, como a Receita. “Utilizando o nome dessas outras empresas fica cada vez mais difícil comprovar o elo do destinatário final, que seria contrabandista de droga”, explicou o delegado. “Esses produtos também são utilizados para fins farmacêuticos, por exemplo, para produção de remédios”, acrescentou.