Entenda a ligação de empresário assassinado em aeroporto com o PCC

Atualizado em 9 de novembro de 2024 às 8:16
O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach foi baleado em Guarulhos. Foto: reprodução

Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, empresário executado a tiros no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na última sexta-feira (8), estava envolvido em uma delação premiada sobre um complexo esquema de lavagem de dinheiro operado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre os casos delatados, Gritzbach detalhou operações financeiras e imobiliárias realizadas pela facção criminosa, que incluíam transações em criptomoedas, investimentos em imóveis de luxo e até negócios no futebol paulista.

O empresário havia firmado um acordo de colaboração com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), homologado em abril deste ano, após dois anos de negociação. Durante o processo, ele prestou seis depoimentos, nos quais acusou membros do PCC de envolvimento em lavagem de dinheiro e detalhou o financiamento de imóveis adquiridos com dinheiro do tráfico.

Uma das principais peças que ligam Gritzbach ao PCC foi seu relacionamento com Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”, e com o motorista e braço direito dele, Antônio Corona Neto, apelidado de “Sem Sangue”.

O empresário admitiu ter orquestrado o assassinato de Cara Preta e Sem Sangue em 2021, após desviar R$ 40 milhões que deveriam ser investidos em criptomoedas. Anselmo, uma figura influente dentro do PCC, teria pressionado o empresário para devolver o dinheiro, levando Antônio Vinícius a temer por sua segurança e, eventualmente, orquestrar os homicídios.

O empresário, que havia deixado a penitenciária de Presidente Venceslau em junho, usava tornozeleira eletrônica e respondia ao processo em liberdade. Apesar das ameaças à sua vida, antes de seu assassinato, ele se comprometeu a revelar detalhes do funcionamento da célula do PCC no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo.

Gritzbach contou ao MPSP que auxiliava Cara Preta e outros membros do PCC a adquirirem imóveis de alto padrão com dinheiro proveniente do tráfico de drogas. Um dos imóveis citados foi uma cobertura de R$ 15 milhões em São Paulo, adquirida por Cara Preta e registrada no nome de Ademir Pereira de Andrade para ocultar a origem dos valores.

Além disso, o empresário intermediou a compra de dois imóveis em Riviera de São Lourenço, no litoral paulista, em nome de familiares para Cláudio Marcos de Almeida, o “Django”, sócio de Cara Preta, que também foi morto em uma disputa interna do PCC. As propriedades foram compradas por R$ 5,1 milhões e R$ 2,2 milhões, respectivamente, com dinheiro ilícito, conforme relatado por Antônio Vinícius aos promotores.

Outro ponto revelado pelo delator envolvia o futebol paulista. Segundo ele, o PCC também investia no agenciamento de jogadores do Corinthians e de outras equipes. Essas revelações foram divulgadas inicialmente pelo jornalista Josmar Jozino e revelaram o envolvimento da facção em mais um setor econômico, visando a lavagem de dinheiro.

O assassinato de Gritzbach está sob investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A principal linha de investigação aponta para uma possível retaliação ordenada pelo PCC, embora outras hipóteses estejam sendo consideradas, incluindo queima de arquivo.

Antônio Vinícius havia confidenciado a amigos que temia ser morto e que um advogado ligado ao PCC teria oferecido R$ 3 milhões por sua “cabeça”.

Após o ataque no aeroporto, a Polícia Militar conseguiu apreender um veículo que teria sido usado pelos atiradores, na Avenida Otávio Braga de Mesquita, em Guarulhos. A polícia agora busca traçar o perfil dos responsáveis pelo atentado e identificar eventuais conexões com a organização criminosa.

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