A apuração sobre a fraude nos cartões de vacinação que gerou o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, e outras 14 pessoas detalhou cada passo do esquema. A investigação é vinculada ao inquérito das milícias digitais, que tramita em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a Polícia Federal, o esquema teve início após o tenente-coronel pedir ajuda do sargento Luis Marcos dos Reis, também ajudante de ordens, para conseguir um cartão de vacinação fraudulento que mostrasse a imunização contra Covid-19 em nome de sua esposa, Gabriela Santiago Cid.
Com ajuda do médico Farley Vinicius Alcantara, Luis teria conseguido um cartão da Secretaria de Saúde de Goiás em nome de Gabriela. Os dados que constavam no registro falso teriam sido retirados de um cartão de imunização de uma enfermeira.
Eles encontraram dificuldades para inserir os dados falsos no sistema do Ministério da Saúde e Cid decidiu pedir ajuda ao major reformado do Exército Ailton Barros. A investigação aponta que ele foi o responsável por intermediar a inserção dos dados na Prefeitura de Duque de Caxias (RJ). Gabriela viajou três vezes para o exterior depois do esquema, segundo a apuração.
Após conseguir um cartão de vacinação fraudulento para a esposa, Cid pediu para Barros obter novos certificados para ele e suas filhas. A inserção das informações falsas foi realizada por João Carlos Brecha, secretário de Duque de Caxias, segundo a corporação.
Posteriormente, segundo a delação de Cid, ele pediu a Ailton Barros cartões de vacinação falsos para o então presidente Jair Bolsonaro e sua filha, Laura. O tenente-coronel também solicitou a inserção das informações fraudulentas no sistema ConecteSUS.
À PF, o ex-ajudante de ordens disse que a determinação veio do próprio ex-presidente, que soube que o auxiliar tinha conseguido cartões falsos para usa família.
Investigadores apontam que Cid recebia pedidos para fazer certificados falsos e enviava as solicitações a Barros. Ele, por sua vez, encaminhava os dados a Brecha, que tinha credenciais de acesso e inseria as informações no sistema do Ministério da Saúde.
A PF aponta que foi Brecha quem inseriu a informação de que Bolsonaro teria tomado duas dozes da Pfizer em Duque de Caxias. Ele nega e diz que alguém pode ter usado suas credenciais para viabilizar o esquema.
Após a inserção dos dados no sistema do Ministério da Saúde, Cid emitiu o certificado de vacinação do então mandatário por meio do ConecteSUS no Palácio da Alvorada. O cartão de Laura foi emitido na casa de Brecha.
Em depoimento, Bolsonaro negou ter determinado a falsificação dos certificados e disse que Cid atuou “à revelia”, sem qualquer orientação. A PF, no entanto, afirma que o ex-presidente “agiu com consciência” e determinou a emissão dos documentos falsos.
“Os elementos de prova coletados ao longo da presente investigação são convergentes em demonstrar que Jair Messias Bolsonaro agiu com consciência e vontade determinando que seu chefe da Ajudância de Ordens intermediasse a inserção dos dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde em seu benefício e de sua filha, Laura Bolsonaro”, diz relatório da PF.