Entre epidemias e guerras religiosas, mundo parece ter voltado à Idade Média, diz jornal Libération

Atualizado em 1 de novembro de 2020 às 12:27
Polícia reforçou a segurança em torno da basílica Notre-Dame, em Nice, após atentado que deixou três mortos na quinta-feira (29). REUTERS/Eric Gaillard/Pool

Originalmente publicado em RFI

“Espiral do terror” é a manchete do Libération, que exibe na capa o imenso esquema policial mobilizado após o ataque, diante da igreja. Em um emocionado editorial, intitulado de “veneno da intolerância”, o diário afirma que “entre epidemias e guerras religiosas”, o mundo parecer ter brutalmente voltado para a Idade Média, “principalmente a França, que paga caro por seu engajamento da defesa da liberdade de expressão”.

Mesmo tom no jornal Le Figaro, que traz como manchete “Nice: a barbárie islamita desencadeada contra a França”. O diário lembra que esse é o terceiro atentado terrorista em apenas um mês no país.

Em editorial, o jornal descarta o questionamento sobre o abandono temporário da publicação de caricaturas que possam acirrar os ânimos dos muçulmanos. Segundo Le Figaro, isso seria se submeter à vontade dos extremistas. O jornal defende um controle mais rígido da imigração e a expulsão de todos os estrangeiros radicalizados.

Novos atentados e segundo lockdown

“Terrorismo, Covid: a França sob chumbo grosso”, diz a manchete do Le Parisien. O diário lembra que poucas horas depois que o país soube que deveria ser submetido a um novo lockdown, foi novamente alvo da barbárie terrorista.

“O segundo lockdown se anuncia como um trauma mais severo ainda do que o primeiro”, afirma o editorial do jornal. “O terrorismo islamita vem assombrar ainda mais essa situação obscura”, reitera Le Parisien.

O jornal La Croix escolheu estampar na capa uma só palavra: “Aguentar”. “A três dias do feriado cristão de Todos os Santos, celebrado em 1° de novembro, a Igreja Católica é atacada pelo horror e a violência. Chocados, os fiéis fazem um apelo pela luta enérgica contra o terrorismo, mas insistem também na exigência da fraternidade para combater o fanatismo”, afirma o diário.

Em editorial, o jornal católico sublinha que, para superar esse trágico momento, “é preciso dizer não ao espírito de vingança”. Entretanto, ao mesmo tempo, o jornal frisa que é necessário “deixar de lado a ingenuidade para combater o islamismo que, em Nice, atingiu os católicos, como visou em outras circunstâncias jornalistas, judeus, policiais, militares, e, há menos de uma semana, um professor”.

Por isso, dois princípios devem guiar os franceses: a repressão da violência fanática, aplicando as leis da República e protegendo as pessoas e os locais de ataques, e não cair na generalização, associando todos os muçulmanos a essa barbárie, conclui La Croix.