Episódios da semana mostram que Bolsonaro está mais perdido que cachorro em mudança. Por José Cássio

Atualizado em 16 de fevereiro de 2019 às 8:46
Bolsonaro usa camiseta “pirata” do Palmeiras (Foto: Reprodução/Instagram)sonar

Bolsonaro inicia sua nona semana no poder debilitado fisicamente e com um caminhão de pequenos e grandes problemas nas costas.

Deixando o caso Gustavo Bebianno de lado, entre os principais desafios após quase 20 dias internado no Einstein está acertar os ponteiros na câmara e no senado, melhorar a relação com o vice Hamilton Mourão e, ainda mais importante, cuidar da sua recuperação e dar aos brasileiros uma resposta clara e convincente sobre seu real estado de saúde.

O presidente já não esconde sua relação de distanciamento com o vice.

No período em que ficou internado, negou-se a tirar licença médica, reassumindo as funções da Presidência dois dias após a cirurgia para religação do intestino e retirada da bolsa de colostomia que utilizava desde que sofreu um ataque a faca durante a campanha eleitoral, em setembro.

Numa entrevista à TV Record, Jair admitiu arestas e disse que precisa se entender com Mourão – segundo ele, o vice dá umas “escorregadas” ao falar com a mídia.

O problema, neste caso, é como manter uma relação de harmonia com uma pessoa com quem o presidente não tem nenhum contato no dia a dia.

“As únicas vezes que o presidente conversou comigo foram durante a campanha eleitoral”, confidenciou Mourão ao jornal O Globo.

Durante a fase de internação no Einstein, o vice não fez uma visita sequer ao presidente – se falaram apenas uma vez pelo telefone e Bolsonaro brincou se Mourão estava torcendo pela sua morte.

Não se sabe como Bolsonaro terá sucesso no seu objetivo de acabar com as “escorregadas” de Mourão, já que o vice se sente cada vez mais à vontade no seu contato com os jornalistas.

No início do ano, contradizendo o presidente, garantiu ao embaixador da Palestina que não há plano sobre Jerusalém.

Depois, defendeu que Lula deveria ir ao funeral do irmão por “questão humanitária” e afirmou que “aborto deve ser uma decisão da mulher”.

Nesta semana, falando sobre a “irrelevância” de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, no Roda Viva, reconheceu a importância de Chico Mendes.

“Faz parte da história do Brasil na defesa do meio ambiente”, disse Mourão. “Assim como outros vultos que passaram na nossa história”.

Nos dias de estaleiro, Bolsonaro chegou a arquitetar com os filhos e Olavo de Carvalho um plano para dar umas cacetadas no vice.

O guru intelectual da família não fez nem cócegas no general e a estratégia acabou indo para o ralo.

Um assunto fundamental, sobre a saúde do presidente, ganhou contornos de tragédia e fofoca, pela boca da colunista Eliane Cantanhede, do Estadão, em participação na rádio Eldorado.

Eliane informou que, no dia da alta do Einstein, Bolsonaro iria tomar sua última sessão de quimioterapia, dando a entender que o presidente se trata de algum tipo de câncer.

A informação só foi corrigida depois, num comunicado lacônico de três linhas no Twitter:

“IMPORTANTE!”, escreveu a colunista. “O presidente Jair Bolsonaro tomou hoje a última dose de Antibióticos!!!! Nunca, em nenhum minuto, soube ou ouvi que ele fazia quimioterapia. Ele não faz. Aliás, sua recuperação está indo muito bem agora, depois de debelado o início de pneumonia”.

Seja como for, o fato é que Bolsonaro ainda se recupera da internação e terá desafios pesados pela frente.

Assessores e aliados apontam que um dos principais é ajustar as coisas na câmara e no senado.

Na câmara, o deputado major Vitor Hugo (PSL-GO), parlamentar de primeiro mandato e que foi indicado como líder do Governo, não deu conta do recado.

Durante os dias de internação do presidente, major Vitor tentou reunir os líderes da Casa mas não conseguiu. O governo iniciou articulações para encontrar outra pessoa com perfil para a função.

No Senado, a mesma coisa.

O problema é que ali a ideia é ter como líder algum político fora do PSL – e, neste caso, o nome ventilado é o de um aliado de Renan Calheiros, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

Com três filhos que dão um trabalho dos infernos, Bolsonaro passa a sensação de que está mais perdido que cachorro de mudança, envolto em crises sem fim.

O caso Bebianno, que citamos no início do texto e que ganhou ares da novela mexicana com pitadas de realismo fantástico, é apenas uma delas.

Outras são a saúde frágil, o vice falastrão, a dificuldade de relacionamento político com o Congresso, as estratégias “Tabajara” perpetradas por 01, 02 e 03 e… por que não dizer?, ele próprio que até agora não conseguiu se enquadrar num perfil mínimo de dignidade e decoro para a função.