Equatorianos votam neste domingo (15) no segundo turno das eleições presidenciais, disputado entre uma advogada socialista, discípula do ex-presidente Rafael Correa, e um candidato liberal. O duelo acirrado pode mudar a situação em um país atormentado pela violência e o tráfico de drogas.
O jornal local “Primicias” definiu esta disputa como uma “batalha histórica”, que poderá resultar na eleição da primeira mulher à frente do país sul-americano, Luisa Gonzalez, ou na escolha do mais jovem presidente da história moderna do país, Daniel Noboa, filho de um rico empresário.
Este dia “sem precedentes na história democrática do nosso país”, em que será escolhido um presidente até 2025, decorreu em “absoluta normalidade”, indicou a presidente do Conselho Eleitoral (CNE), Diana Atamaint.
A votação está prevista para terminar às 17h (19h em Brasília) e acontece sob vigilância de cerca de 100 mil militares e policiais, que garantem a segurança das 4.390 seções eleitorais. Os primeiros resultados serão publicados a partir das 18h30 (20h30 no Brasil) e o vencedor será conhecido ainda esta noite, segundo o presidente da CNE.
Insegurança na pauta
Em 20 de agosto, o assassinato de Gabriel Villavicencio, um dos principais candidatos e ex-jornalista com uma forte mensagem anticorrupção, traumatizou os eleitores. O diário Primícias destaca que as eleições decorrem “num contexto de insegurança e violência política imposto por gangues ligadas ao crime organizado internacional”.
“Esta é uma eleição crítica, o futuro do país está em jogo. O que mais nos preocupa é a questão da insegurança e o crime. A outra é a economia”, comentou Freddy Escobar, 49 anos, na entrada de uma seção de votação, em Quito.
“A insegurança é o que mais nos entristece, não pode continuar assim”, acrescenta Jhovanny Velasco, motorista de 53 anos, do norte de Quito. “Segurança, emprego, saúde, educação… o novo presidente terá um trabalho complicado”, previu Cristian Chacahuasay, 27 anos.
Com um colete à prova de balas e cercada por um forte esquema de segurança, a candidata Luisa Gonzalez votou por volta das 9h em sua cidade, Canuto, no sudoeste do país. “Que o Equador triunfe e que vença a ‘Revolução Cidadã’”, disse ela, citando o nome de seu partido.
Sorridente, também com um colete à prova de balas, o adversário Daniel Noboa votou no final da manhã em Olon, em seu reduto de Santa Elena (sudoeste). “Hoje vencemos”, disse ele.
Enquanto a insegurança atinge “níveis históricos” e o Equador é um dos países com “mais crimes do mundo”, o eleito terá de “reduzir a taxa de homicídios, recuperar áreas que caíram no domínio do crime organizado, combater a corrupção, controlar as prisões, expurgar as forças de segurança, melhorar a justiça, coibir o tráfico de drogas…”, enumera o jornal El Universo, neste domingo, sobre os desafios do novo presidente.
Com pesquisas eleitorais muito acirradas, os últimos dias de campanha foram marcados por uma avalanche de promessas dos dois candidatos: “Um novo Equador”, uma “mão firme” para “salvar o país”, o “fim da delinquência”, “milhares de empregos”, são algumas das promessas.
16 meses de mandato
A chapa eleita terá pouco tempo para cumprir suas promessas, pois o novo presidente irá governar somente até o início de 2025, data do fim do mandato do Presidente Guillermo Lasso, que convocou eleições antecipadas para evitar a sua destituição, num contexto de acusações de corrupção.
Ao que tudo indica, o novo líder herdará um país mergulhado em uma onda de violência sem precedentes, que sofre de corrupção endêmica e com instituições enfraquecidas.
Um dia considerado uma ilha de paz na América Latina, o Equador tem 18 milhões de habitantes e fica localizado entre a Colômbia e o Peru, os dois maiores produtores mundiais de cocaína. O país foi assolado por uma onda de violência ligada ao crime organizado e ao tráfico de drogas.
De acordo com dados do Observatório do Crime Organizado do Equador, pelo menos 3.600 pessoas foram assassinadas, desde o início do ano, enquanto a taxa de homicídios duplicou e continua a disparar.
A sombra do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), exilado após ser condenado por corrupção pela justiça equatoriana, paira sobre a candidatura de Gonzalez, que já anunciou que o tornaria seu conselheiro.
Este segundo turno acontece num contexto de polarização, já que nenhuma força ou partido tem maioria absoluta na Assembleia Nacional.
Publicado originalmente no RFI.