Especialistas questionam testes de gênero no esporte após caso de boxeadora

Atualizado em 2 de agosto de 2024 às 15:09
Boxadora Imane Khelif. Foto: Divulgação

O duelo de boxe das oitavas de final do peso meio-médio nas Olimpíadas de Paris, realizado nesta quinta-feira (1), transformou-se em um debate intenso sobre gênero no esporte e a validade dos testes de elegibilidade de gênero.

A desistência da italiana Angela Carini na luta contra a argelina Imane Khelif gerou uma série de controvérsias, especialmente considerando que a boxeadora africana havia sido desclassificada do Mundial de 2023 por não passar no teste de elegibilidade de gênero.

A lutadora argelina de 25 anos foi desqualificada do Mundial de 2023, na Índia, pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) devido a “níveis elevados de testosterona que não atendiam aos critérios de elegibilidade”. A situação ganhou ainda mais repercussão porque Khelif havia sido excluída por um teste que, segundo o COI, não está mais em uso.

O presidente da Associação Internacional de Boxe (IBA), Umar Kremlev, esclareceu que a desqualificação foi resultado de testes de DNA que identificaram tentativas de alguns atletas de enganar seus colegas fingindo ser mulheres. No entanto, testes de gênero, como dosagem de testosterona e exame de DNA, foram abolidos pelo COI nos anos 2000. Atualmente, o órgão aceita a designação de gênero conforme registrada no passaporte da atleta.

A professora Kátia Rubio, da Faculdade de Educação da USP, lembra que discussões semelhantes ocorreram no passado com atletas como o do judoca Edinanci Silva e a jogadora de vôlei Érika, que passaram por cirurgias e tratamentos para controlar níveis hormonais elevados. Ela critica a abordagem atual, argumentando que o gênero é uma questão social e psicológica, não apenas biológica.

Judoca Edinanci Silva. Foto: Divulgação

O professor Leonardo Álvares, do Centro Universitário São Camilo, destaca que testes de cromossomos não definem o gênero e que a medição de testosterona é o critério atual para atletas trans. Ele explica que, se Khelif fosse mulher transgênero, poderia competir com mulheres cisgênero se tivesse feito o controle hormonal adequado.

Kátia Rubio acredita que a discussão sobre testes de gênero continuará devido ao crescente número de pessoas que se identificam fora do binarismo homem-mulher. Ela critica a ambiguidade do COI e a falta de conhecimento sobre atletas trans e intersexuais.

A boxeadora irlandesa Amy Broadhurst, que derrotou Khelif no Mundial de 2022, defendeu a atleta argelina nas redes sociais, argumentando que a situação é uma questão de biologia e não de trapaça.

A argelina segue competindo nos Jogos de Paris e enfrentará a húngara Anna Luca Hamori nas quartas de final neste sábado (3). Se vencer, garantirá uma medalha.

Nascida em Tiaret, Argélia, em 2 de maio de 1999, Khelif compete desde 2018 e já conquistou títulos no Campeonato Africano e no Campeonato Mediterrâneo, além de ter chegado à final do Mundial de 2022.

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