Espiritismo brasileiro, codificado pelo católico de linha medieval Chico Xavier, jamais será de esquerda

Atualizado em 25 de outubro de 2020 às 14:08

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Publicado originalmente no Faxina Espiritual:

Por Saddam Hayek

Vamos admitir de uma vez por todas que o que é chamado de “Espiritismo” no Brasil nada tem a ver com o original francês, pegando apenas aspectos para legitimar a gororoba doutrinária que é feita no Brasil. Quanto a posição político-sócio-econômica, também há divergência entre estas duas formas de “Espiritismo”. Divergência que causa uma baita confusão.

O Espiritismo original é claramente de esquerda, enquanto a sua versão brasileira é claramente direitista. Não apenas em relação a posição política escolhida, mas aos dogmas também. Embora existam esquerdistas no “Espiritismo” brasileiro e direitistas defendendo a volta às origens da codificação feita por Allan Kardec, dois exemplos de incoerência.

Mas não há como o “Espiritismo” brasileiro ser de esquerda. Personagens como Franklin Félix e Carla Pavão, assim como outros, são verdadeiras aberrações que tentam, involuntariamente, transgredir na política a própria fé que seguem nos assuntos religiosos.

O “Espiritismo” brasileiro, “codificado” por Chico Xavier, um católico da linha medieval. Sua esquizofrenia era confundida como “mediunidade”, o que permitiu fazer com que Xavier, que era um beato que só queria um lugar para rezar, fosse não somente aceito pelos “espíritas”, como também se tornou seu maior propagandista, quase uma liderança para uma grande multidão de ingênuos.

O sistema defendido pelo “Espiritismo” brasileiro era coerente ao medievalismo de Chico Xavier – tido como moderno e altruísta só por causa dos estereótipos construídos em torno dele – e admitia uma hierarquia, quando seres humanos se situam em níveis diferentes, sendo os mais fortes e poderosos com privilégios que seus “inferiores” não possuem.

Na hierarquia, os seres humanos não são totalmente iguais. Os fortes, que supostamente teriam lutado honestamente para chegar onde estão – mesmo tendo trapaceado e prejudicado outros pelo caminho – teriam direito até mesmo de esmagar os fracos, comandando um sistema onde os benefícios seriam exclusividade dos que comandam e daqueles que estão do lado dos fortes.

A única situação política que permite a hierarquia é a direita. Aliás é isso que mais caracteriza o pensamento de direita. Mesmo a direita moderada (DEM, PSDB, PMDB, etc.) defende a hierarquia, mesmo sendo menos agressiva que formas mais radicais de direitismo. A direita moderada ainda continua a acreditar em fortes prósperos que estão autorizados a esmagar os mais fracos.

O próprio “Espiritismo” brasileiro acredita nesta hierarquia, mesmo atribuindo para si um altruísmo estereotipado e precário, tratando pobres como sub-humanos que devem se contentar com a caridade tosca que recebem.

Mesmo com relativo respeito, os pobres, na melhor das hipóteses, são tratados como animais de estimação, sempre usufruindo de “benefícios” inferiores aos dos humanos prósperos. Os prósperos, em situação privilegiada, nunca dão aos pobres os mesmos benefícios que possuem, sempre reservando a eles, considerados perdedores de um sistema competitivo, bens mais precários.

O repertório dogmático também é baseado na hierarquia, com nuances claramente punitivistas. Os ricos são supostamente a reencarnação dos bons, já que o egoísmo de uma vida levaria a pobreza na vida seguinte. Os pobres seriam a reencarnação dos maus, merecendo todo tipo de desprezo e cuja caridade recebida nunca deve ultrapassar os limites da precariedade.

Por isso que ricos são muito bem tratados no “Espiritismo” brasileiro, uma seita típica de classe média alta e muitos diplomados de nível superior. Essa quantidade de diplomados se encaixa no estereótipo que faz a versão brasileira ser ainda associada a sua matriz francesa, esta baseada na ciência. A racionalidade cria um falso diferencial que atrai diplomados e legitima seus dogmas.

Isso também tem muito a ver com hierarquia. No “plano espiritual”, há níveis diferentes para os prósperos e não prósperos, separados de acordo com os critérios do moralismo do medievalismo de Chico Xavier.

Xavier acreditava que a obediência a Deus seria muito mais importante que a racionalidade. Pelo jeito, o Deus de Chico Xavier criou o cérebro apenas para colocar peso nas cabeças. O que ele chamava de “tóxico do intelectualismo” estaria ausente do academicismo dos diplomados ‘espíritas”, que acreditam numa fé que “raciocina” sem verificar (fé raciocinada), aceitando tudo cegamente.

Essa pseudo-racionalidade que permite que uma doutrina com base no conservadorismo mais retrógrado do medievalismo chiquista seja considerada “de esquerda” só porque possibilita dar bens inferiores (sopas, cestas básicas baratas, cadernos riscados, roupas rasgadas e desbotadas, cobertores para quem precisa de casa, etc.) aqueles que proibidos pelas leis terrenas de prosperarem.

O suposto esquerdismo do “Espiritismo” brasileiro é uma farsa e entra em claro choque com o dogmatismo imposto pelo esquizofrênico Chico Xavier, que acreditava que o céu pertence aos prósperos. Os mais fracos que se virem se quiserem pelo menos sobreviver. Desde que continuem cultuando e obedecendo Chico, Divaldo, Franklin e Carla, os quatro cavaleiros do apocalipse.